CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sessão: 173.2.55.O Hora: 16:18 Fase: CP
Orador: LUIZ COUTO, PT-PB Data: 07/07/2016

O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o processo de impeachment da nossa Presidenta Dilma Rousseff está todo alicerçado na hipocrisia e gerou brutal rompimento na democracia deste País.

A hipocrisia é uma postura que alimenta e fortalece a traição, a calúnia, a desonestidade e a impostura, mas também envenena as relações humanas com a dissimulação, a farsa e o fingimento e destrói a sã convivência social, impedindo que a verdade nua e crua possa ser revelada, dando forças para a astúcia, a esperteza e a insinceridade.

De acordo com o dicionário Houaiss, a palavra "hipocrisia" possui diversos significados, entre os quais: falsidade, dissimulação, fingimento, caráter daquilo que carece de sinceridade, ato ou efeito de fingir. Historicamente, o termo foi tomando outros significados, tais como: desempenho teatral, falsa aparência, comédia, perfídia, duplicidade, embromação, embuste, mentira, tapeação, disfarce, deslealdade, fraude, malícia, etc.

Victor Hugo nos fala da hipocrisia que assumiu também o vocábulo "farisaísmo", num texto intitulado Sofrimento do Hipócrita. Ele afirma: "Ter mentido e ter sofrido. O hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra. Calcula um triunfo e sofre um suplício...". O hipócrita "faz da deformidade uma beleza, fabrica uma perfeição com a perversidade, faz cócegas com um punhal, põe açúcar no veneno, vela na fraqueza do gesto e na música da voz, não tem o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso.".

Essas são palavras de Victor Hugo. Para ele o que é odioso na hipocrisia "é que tudo começa de forma obscura no hipócrita. O hipócrita mistura a meiguice com a astúcia que disfarça a malvadeza".

A peça Hamlet, de Shakespeare, produz na cena 2 do ato 3 do livro que tem a intenção de desmascarar as atrocidades feitas pelo seu tio. Era a cena de um assassinato que imitava de modo preciso a forma que seu tio usou para matar seu irmão. Tudo que Hamlet queria era que o seu tio admitisse o crime.

A hipocrisia se manifesta de vários modos, mas podemos classificá-los em dois grupos maiores: hipocrisias impudentes e hipocrisias elípticas. Os imprudentes estão presentes de modo claro no dia a dia e são definidos sem necessidade de uma "observação aguçada". São exemplos nesta Casa os políticos que falam das suas bondades, defendem-se de denúncias nas operações da Polícia Federal de "forma clara e esplêndida" e enganam a quase todos. O maior exemplo deste tipo de hipocrisia é o político que, quando governo, não quer instalações de comissões de inquérito, mas quando é oposição quer isso a todo custo. Neste tipo de hipocrisia o ser humano usa de artimanhas para se beneficiar e se autojustificar.

A hipocrisia elíptica é uma espécie de epidemia oculta, invisível e que ainda não foi desvendada. São exemplos: alguém está realizando uma ação e percebe que há outra pessoa que o está observando. A pessoa que é observada tenta fazer aquela ação de forma brilhante para ser aprovada por aquele que a observa.

A hipocrisia encontra-se entre nós. Constantemente, vemos o Governo ilegítimo voltando atrás de algumas decisões, fingindo ser caridoso e que tem uma fé profunda e eficaz ou que é virtuoso, que apresenta ideias e sentimentos que na realidade não os possui ou neles não acredita. Frequentemente, os membros desse Governo golpista assumem atitudes como se fossem atores, ou seja, representam posturas morais como fingimento, e não como comportamentos em que acreditam.

Assim François Duc de La Rochefoucauld revela a essência do comportamento hipócrita: "A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". O hipócrita é alguém que finge ter comportamentos corretos, virtuosos e socialmente aceitos, mas é também alguém que oculta a realidade por trás de uma máscara de aparência.

Esse Governo ilegítimo, golpista e hipócrita se esconde atrás das aparências, veste a máscara da corrupção, mas seu maior erro é ser o que não é e nunca vai ser, pois nenhum dos seus aliados será imune à hipocrisia. Seus diversos escândalos acordarão um povo justo e democrata deste País. O Cunha já renunciou. Esperamos também o "Fora, Temer!" e o "Fora, golpistas hipócritas e fariseus!".

Este é o primeiro pronunciamento que faço, Sra. Presidente. Agora, vamos ao segundo. Ontem, dia 6 de julho de 2016, foi apresentada, no Senado Federal, uma manifestação da nossa Presidenta, legitimada por votos populares. Dilma Rousseff fez a defesa, eficaz e verídica, de sua conduta na Presidência da República.

O que presenciamos ontem foi de emocionar, foi de tamanha verdade e sinceridade que o povo brasileiro sentiu a dor por que a nossa Presidenta tem passado em todo esse processo exacerbado. Não há o que questionar sobre a condução do seu mandato na Presidência da República. Ela respeitou todos os princípios legais.

Esse esdrúxulo pedido de impeachment está carregado de ilegalidades, de intolerâncias, de sentimentos de vingança, de golpismos e de ignorâncias. Sobretudo, é um processo antijurídico. Os eventuais vícios do processo de impeachment corromperam a validade de um determinado processo como um todo, a ponto de anulá-lo.

Já está comprovado, Sra. Presidente, desde o início, que o pedido de impeachment recebido pelo Presidente afastado pelo Supremo Tribunal Federal, Eduardo Cunha, é inconsistente e frágil. Baseia-se em impressões subjetivas e alegações vagas. Os denunciantes e os receptores do processo de impeachment estão acaudilhados não em argumentos jurídicos seguros e sustentáveis, mas, sim, em avaliações parciais de caráter partidário ou espírito de facção.

Sabemos que os Parlamentares golpistas criaram circunstâncias dificultosas políticas da Presidenta da República em um momento de grave crise econômica, desvirtuando, estrategicamente, o apoio que ela vem dando ao combate à corrupção e a sua luta diuturna para conseguir a aprovação de medidas contra a crise econômica no Congresso Nacional.

Parlamentares que votaram para sua cassação afastam-se da ética da responsabilidade, da ética do juízo, atuando por impulsos da parcialidade, do partidarismo e da ideologia, em prejuízo ao povo brasileiro.

Montesquieu escreveu e deixou registrado o seguinte pensamento, a seguinte frase: "A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos". Os golpistas da democracia ameaçaram o povo brasileiro, rompendo com o processo democrático e escancarando suas trapaças.

Agora, mais do que nunca, este processo de impeachment está subjugando não só a Presidenta, mas 54 milhões de brasileiros. Quem sofre é o Brasil, e isto só poderá ser resolvido pela legalidade da volta de nossa Presidenta da Republica ao cargo que lhe é de direito.

Termino, Sra. Presidenta, recitando as palavras que Jesus proferiu no evangelho de Lucas, capitulo 12, versículo 1, que diz: "Acautelai-vos com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia".

Era isso que eu teria a dizer, Sra. Presidenta, pedindo e dizendo que nós não podemos, a partir desta denúncia do Sr. Eduardo Cunha, dizer que ele continue nesta Casa, porque senão ele vai continuar mandando, dominando e fazendo aquilo que ele mesmo sabe fazer muito bem: chantagear, chantagear, dar golpes, etc.

Então, espero que, na segunda-feira, nós possamos derrotar aquele recurso que ele fez e que esse processo possa ser trazido para cá, para que este Plenário, de forma soberana, possa afastá-lo da vida pública, da vida política, porque hoje já há mais um dado que aparece pela imprensa: a notícia oficial de que esse Deputado Eduardo Cunha enriqueceu à custa da PETROBRAS.

Nesse sentido, nós pedimos a publicidade dos dois temas do meu pronunciamento nos meios de comunicação desta Casa, inclusive no programa A Voz do Brasil.

A SRA. PRESIDENTA (Erika Kokay) - Esta Presidência orienta para que seja dada ampla divulgação ao brilhante pronunciamento aqui proferido pelo Deputado Luiz Couto.