CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sessão: 086.2.55.O Hora: 05:04 Fase: OD
Orador: ROBERTO DE LUCENA, PV-SP Data: 16/04/2016

                      O SR. ROBERTO DE LUCENA (PV-SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, meus irmãos brasileiros, as profundas transformações pelas quais passa o mundo impõem a esta geração novas equações para as quais as respostas precisam ser objetivas, claras, rápidas, com a construção de escolhas precisas e efetivas.

Ao longo dos últimos anos, o Brasil tem feito escolhas que têm se revelado equivocadas. Foram esses caminhos escolhidos que nos colocaram diante de um abismo estarrecedor, suscetíveis à tempestade sem precedentes que nos envolve. Essa tempestade chega a ser considerada perfeita, porque de maneira multifacetada estende-se pelos aspectos moral, ético, econômico e político ao mesmo tempo, com componentes combinados com as variáveis negativas da economia global.

Agora, é importante, é honesto que se reconheça que não estamos, senhoras e senhores, simplesmente diante de uma crise de Governo. Trata-se, na verdade, de uma crise de modelo. Chegamos à exaustão do modelo de representatividade política, e a sociedade brasileira não identifica um nome ou um projeto político capaz de ser um elemento catalizador, em que se sinta segura para depositar novamente as suas expectativas.

Fosse essa uma crise de Governo, a solução seria mais simples. Trocaríamos apenas o comando do Governo. Mas não é apenas isso, é uma crise de confianca estabelecida em decorrência da incoerência entre a prédica do discurso político e a prática no trato com o povo e com a coisa pública, identificada na escolha do modelo superado de gestão pública, de máquina inchada, de corrupção sistêmica e de descaso com o povo. E essa crise de confiança afeta, na verdade, toda a classe política e todos os partidos políticos - ninguém se salva!

É uma crise espiritual, formulada pela quebra de princípios, pela relativizacão de valores, pelo derramamento de sangue inocente de milhões de crianças abortadas neste País e das centenas de crianças indígenas mortas a cada ano, vítimas do silêncio desta Casa e do Governo Federal, e também porque o Brasil, através de sua representacão maior, virou as costas para Israel, e, fazendo isso, desprezou as bênçãos advindas dessa relação:

"Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei aquele que te amaldiçoar; em ti serão benditas todas as famílias da terra".

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, este ambiente de aguda crise aponta para o fato de que estamos no caminho errado, e há pelo menos três perguntas que precisamos objetivamente responder: quem ganha e quem perde com essa crise? Estamos prontos a repensar o nosso caminho? Aonde pretendemos chegar? Sim, porque quem não sabe aonde quer chegar simplesmente não chega a lugar nenhum!

Torno público a V.Exas. e ao povo brasileiro que haverei de votar na sessão histórica deste domingo, dia 17 de abril de 2016, a favor da admissibilidade do processo de impeachment da Presidente da República, Dilma Rousseff, e o farei pelo respeito que devo ao povo do meu Estado de São Paulo e por amor ao Brasil, absolutamente consciente de que o impeachment em si não é a solução para o País, nem econômica, nem política. Não é o ponto de chegada, mas uma parada necessária, uma escala.

E este, Sras. e Srs. Deputados, não é um momento nem de festa, nem de comemoração, nem de descontração, é um momento triste, é um momento lamentável da história do nosso País.

Temos pela frente uma estrada longa, difícil, e uma pesada tarefa de reconstrução que caberá a todos, independentemente de cor partidária, de classe social, de ideologia política, pois não basta apenas mudar o comando de um Governo, é preciso aperfeiçoar os instrumentos de transparência e combate à corrupção. É preciso diminuir o tamanho do Estado, tornando-o mais presente, mais eficiente, mais moderno. Não basta apenas punir, precisamos mudar o modelo. Precisamos voltar para a estrada do desenvolvimento econômico, sem abandonar a busca pela justiça social. Precisamos prestigiar quem produz e quem trabalha, e não a preguiça.

Hoje, Sras. e Srs. Deputados, há um muro de quase 2,5 quilômetros erguido entre na Esplanada dos Ministérios, próximo ao Congresso Nacional. Esse muro, que divide os filhos do Brasil em duas partes, é a expressão material do estado de espírito deste País, onde a fogueira do ódio e da intolerância tem sido irresponsavelmente alimentada; é uma fratura exposta na alma nacional!

Mas, passado esse processo, independentemente do seu resultado, o Brasil precisa do seu povo! A sociedade precisará se unir em torno de um pacto nacional de reconstrução. Os verdadeiros líderes, aqueles que amam a Nação e se importam com ela, precisarão estar entre os que terão disposição de derrubar os muros e de construir as pontes.

Cabe-me aqui, Sr. Presidente, lembrar as palavras de Jesus, registradas em Marcos 3:24, como está na nova tradução, na linguagem de hoje da Sociedade Bíblica do Brasil:

"O país que se divide em grupos que lutam entre si certamente será destruído. Se uma família se divide, e as pessoas que fazem parte dela começam a lutar entre si, ela será destruída."

Sras. e Srs. Deputados, estou convencido de que o Brasil, a partir deste momento, nunca mais será o mesmo e de que este País, onde minhas netas viverão como adultas, em 20 anos, estará muito melhor do que o País em que vivemos hoje, mas quis Deus que esta fosse a geração da transição, e essa transição, Deputado Evandro Gussi, tem um preço a ser pago. E esse preço, Deputado Simão, é elevado! Sr. Presidente, nós pagaremos esse preço!

Eu farei a minha parte, porque o Brasil que eu quero para mim, para os meus filhos e para minhas netas, o Brasil que eu quero para as futuras gerações começa exatamente em mim. Votarei, senhoras e senhores, pelos 10 milhões de trabalhadores desempregados no Brasil, e o emprego, nobres pares, é o melhor programa social que existe.

Votarei pelo fim do industricídio nacional. Apenas no meu Estado de São Paulo, 4.451 indústrias fecharam as portas no último período de 12 meses, isso como resultado da atual crise econômica. Pagarei o preço pelas milhares de pessoas na fila da morte, nos corredores dos hospitais do Brasil.

Concluindo, quero lembrar um episódio recente. Ao buscar a origem de um vazamento no Salão Verde na Câmara dos Deputados, uma equipe de manutenção encontrou seis mensagens de operários que trabalharam na construção do Congresso Nacional, mensagens que estavam escritas nas vigas e nas paredes acima da laje, Deputado Odorico. Duas dessas mensagens, especialmente, chamaram-me a atenção por serem dirigidas aos políticos, aos representantes do povo brasileiro que haveriam de ocupar estas instalações a partir do ano que se seguiria.

Em uma delas, diz o autor: "Só temos uma esperança, a esperança nos brasileiros de amanhã". Quanta energia e quanto da alma desse operário foi colocada nessas palavras que reproduziam o seu sentimento, fruto da percepção de contexto, de conjuntura e da sua própria realidade!

Sob as cobertas do desabafo, nota-se o desânimo em relação ao que se havia experimentado e vivido com a única exceção da crença, da esperança nos brasileiros de amanhã, nos brasileiros que estariam hoje aqui nesta Casa. Quanta responsabilidade a nossa!

A outra mensagem é uma verdadeira oração, é a oração do candango José Silva Guerra, escrita a lápis sobre o concreto, com a data de 22 de abril de 1959: "Que os homens de amanhã que aqui vierem tenham compaixão dos nossos filhos, e que a lei se cumpra!"

Essa súplica, depositada silenciosamente neste lugar alto, Deputado Evair de Melo, que apelava a Deus e às consciências, presumia que as gerações que se sucederiam aqui, nesta Casa, seriam de pessoas de bem, de generoso espírito público, responsáveis, lúcidas, sensíveis, a ponto de nutrirem real interesse pelos filhos do povo.

Que Deus tenha misericórdia de nós!

Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor! Que Deus nos abençoe! Que Deus abençoe o Brasil!

Era o que eu tinha a dizer Sr. Presidente. (Palmas.)