CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sessão: 009.2.55.O Hora: 12:28 Fase: OD
Orador: DR. JORGE SILVA, PROS-ES Data: 18/02/2016

PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO À MESA PARA PUBLICAÇÃO

O SR. DR. JORGE SILVA (Bloco/PROS-ES. Pronunciamento encaminhado pelo orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Brasil está no epicentro de uma emergência mundial de saúde. Se nada for feito, teremos uma geração inteira de crianças com microcefalia, devido à infecção de suas mães pelo vírus zika durante a gravidez. O zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também transmite os vírus da dengue e da chikungunya.

A despeito de todos os esforços do Governo no sentido de combater a proliferação do mosquito, a situação está longe de ser controlada. Segundo especialistas, o vírus zika deve se tornar uma doença endêmica no Brasil e em outros países da América Latina, em um cenário semelhante ao que ocorre hoje com a dengue.

A infecção pelo zika é muito mais amena que a da dengue: na ampla maioria dos casos suas vítimas sequer percebem que estão infectadas. Tem, no entanto, consequências gravíssimas quando é contraído pela mulher durante uma gestação. Por isso o sinal de alerta global dado pela Organização Mundial da Saúde.

O fator que mais dificulta a disseminação da doença é a extrema resistência do mosquito Aedes aegypti. Ele já foi erradicado antes no Brasil por duas vezes, e voltou a infestar nossos centros urbanos, dando origem ao atual surto de dengue. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados 40 mil casos de dengue em 1990. Em 2000, o total saltou para cerca de 135 mil casos. Dez anos depois, o vírus infectou mais de 1 milhão de brasileiros e, em 2015, foram registrados cerca de 1,5 milhão de casos.

No que se refere à infecção pelo vírus zika, o desconhecimento da doença agrava o quadro ainda mais. Não se sabe, por exemplo, se uma pessoa que contrair o zika ficará imune. Também não se pode prever se o vírus sofrerá mutações.

Desde que houve a suspeita de que a disseminação do vírus zika está associada ao crescimento do número de casos de microcefalia, começou uma corrida da comunidade científica internacional para desenvolver uma vacina contra o vírus. O Instituto Butantan, em São Paulo, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e a Agência de Saúde Pública do Canadá, bem como várias empesas privadas de biotecnologia, já iniciaram trabalhos nesse sentido.

Esses esforços, no entanto, ainda são incipientes. De acordo com a Classificação Mundial de Patentes, só há 30 menções ao zika em pedidos de patentes, enquanto os pedidos que se referem à dengue são 2.551 e os que mencionam o vírus ebola somam 1.043. Além disso, só foram publicados 108 estudos científicos sobre o zika, desde 2001, contra mais de 4 mil a respeito do ebola.

Sr. Presidente, nobres colegas, é muito grave, é dramático, é trágico que nossas crianças estejam ameaçadas, ainda no ventre de suas mães, a ter uma vida com graves limitações físicas e mentais. E as perspectivas não são nada animadoras.

O clima no continente, sobretudo durante o verão, é particularmente propício para a disseminação do Aedes aegypti. O médico Andrew Haddow, neto de Alexander Haddow, um dos três cientistas que em 1947 isolaram o zika pela primeira vez, acredita que dificilmente o Brasil e outros países da América Latina conseguirão livrar-se completamente do vírus.

A nós só resta, agora, torcermos para que se chegue logo a uma vacina segura e eficaz contra os vírus transmitidos pelo mosquito. Enquanto isso não acontece, devemos seguir combatendo, da melhor forma possível, a proliferação do Aedes aegypti.

Eu aproveito a oportunidade para reiterar minha disposição em apoiar e me associar, no que for possível, aos esforços da sociedade nesta luta.

Obrigado.