CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sessão: 004.2.55.O Hora: 17:00 Fase: GE
Orador: POMPEO DE MATTOS, PDT-RS Data: 04/02/2016

O SR. POMPEO DE MATTOS (PDT-RS. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, no ano de 2015, nós, nesta Casa, debatemos, discutimos, mas discutimos muito mais Brasília e muito menos Brasil, quando nós deveríamos ter discutido muito mais Brasil e muito menos Brasília.

Aliás, discutimos aqui, de forma exasperada, exaustiva, o impeachment da Presidente Dilma; a cassação do Presidente desta Câmara, Eduardo Cunha; denúncias do Procurador Rodrigo Janot; a tomada de posição do Supremo Tribunal Federal. Discutimos aqui a PETROBRAS, a Lava-Jato, ou seja, judicializamos a política ou fizemos a má política.

Em 2016 - eu espero, quero, torço -, temos que ter a responsabilidade de parar com essa situação de ter um grupo para defender a Presidente Dilma e acusar o Deputado Eduardo Cunha e ter outro grupo para defender o Deputado Eduardo Cunha e acusar a Presidente Dilma.

Está na hora de esses grupos se juntarem para defender o Brasil, para defender os brasileiros, o emprego, a renda, o empreendedorismo, a educação, a saúde, a segurança. Está na hora de defender o Brasil, o seu povo e a sua gente.

Em 2015, Sr. Presidente, enquanto discutíamos aqui o impeachment da Presidente Dilma e a cassação do Presidente Eduardo Cunha, nós esquecemos a saúde. Não debatemos a saúde, e o mosquito Aedes aegypti ficou voando, leve, livre e solto. Trouxe a dengue e, com a dengue, a febre chikungunya. E trouxe o vírus zika, que infectou dezenas, centenas, milhares de pessoas.

Temos aí, pelo menos, o indicativo de mais de 3 mil mulheres grávidas, com feto, com nascituro, com criança para nascer com o vírus zika, com a microcefalia.

Enquanto nós alimentávamos essa guerra entre Cunha e Dilma, Dilma e Cunha, nós perdíamos - e estamos perdendo - a guerra para o mosquito da dengue. Um mosquitinho está ganhando de nós, porque não temos consciência da responsabilidade que esta Casa tem que ter com o Brasil, com os brasileiros, com a nossa brasilidade.

Esquecemos de discutir aqui o emprego. O que aconteceu? Dezenas, centenas, milhares de pessoas perderam o emprego, porque veio o desemprego. Perderam o ganha-pão, perderam a possibilidade de botar o pão na mesa, fruto do suor do seu trabalho, o pão nosso de cada dia.

Enquanto debatíamos aqui se era Dilma ou se era Cunha, nós esquecemos de debater a economia deste País. O que aconteceu? Veio a inflação, o dólar subiu, nossas reservas econômicas se foram, aniquilaram-se, a produção industrial minguou, afundou-se. E aí os juros explodiram, os bancos enriqueceram. É o juro do juro, da mãe do juro, do pai do juro, do avô do juro. Há como suportar isso?

Enquanto nós alimentávamos a briga entre Cunha e Dilma, Dilma e Cunha, esquecemos a educação, e lá se foi o FIES - diminuiu-se praticamente pela metade o financiamento da educação -; lá se foi o PRONATEC, enquanto discutíamos coisas menores.

Não discutimos o meio ambiente, e veio a tragédia de Mariana, onde morreram quase 2 dezenas de pessoas, ficando o meio ambiente degradado, com contaminação de rios e lagos.

Esquecemos de debater a segurança, porque tínhamos coisas menores para debater, e os bandidos estão avançando, tomando conta das cidades.

A droga - ah, a droga - está ocupando espaço nas famílias. A droga é coisa do diabo, mas é feita por gente, e nós temos que ter consciência disso. O bandido busca na droga a coragem que não tem para fazer os crimes que deseja. E fica por isso mesmo.

Esta Casa está perdendo o fio da história, está perdendo o trem da história.

Esquecemos, Sr. Presidente, de debater a agricultura. Mas, felizmente, os agricultores gaúchos e brasileiros não esqueceram de plantar. Sabiam e souberam plantar na hora certa. É verdade que a mãe natureza ajudou, combinou-se, parece-me, com São Pedro, e aí choveu para o preparo da terra e parou de chover para a plantação. Choveu depois para nascer, parou de chover para crescer e choveu no alvorecer para a colheita. É verdade que o preço não é bom para vender, mas é mais verdade que o Governo tem atrapalhado e quase não tem deixado isso acontecer.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Peço que conclua, Deputado.

O SR. POMPEO DE MATTOS - Vou concluir, Sr. Presidente.

A agricultura está salvando o Brasil, mas esta Casa tem que ter consciência de que, assim como o agricultor, o lavoureiro, o plantador faz o seu dever de casa, sabe o dia de plantar, sabe o dia de semear, de cuidar, de colher, nós temos que saber o dia de fazer o dever de casa.

Então, em 2016, nós temos que debater mais Brasil, menos Brasília, com uma agenda positiva, até porque, Presidente, tem gente que tem cara e que tem vergonha, tem gente que não tem cara nem tem vergonha e tem gente que não tem vergonha na cara. O que nós precisamos é criar vergonha e defender o Brasil, menos Brasília, e fazer a coisa decente, séria, madura e responsável. Esse é o compromisso do PDT.

Muito obrigado.