CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sessão: 61300 Hora: 14:17 Fase:
Orador: Data: 04/05/2021

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro, declaro aberta a presente reunião extraordinária de audiência pública, convocada após a aprovação dos Requerimentos nº 18, nº 35 e nº 50, de 2021, de autoria do Deputado Pedro Westphalen, para debater o seguinte tema: A situação dos pacientes pós-AVC e pós-COVID-19.

Esta reunião será realizada por meio do Sistema de Deliberação Remota. Vou dar alguns importantes avisos, para que a nossa reunião transcorra de maneira bem tranquila. Tendo em vista as alterações promovidas pela Resolução nº 19, de 2021, e pelos Atos da Mesa nº 161 e nº 188, de 2021, que tratam do trabalho das Comissões por meio do Sistema de Deliberação Remota, solicito atenção às seguintes orientações.

Os Deputados deverão ingressar na reunião pelo Zoom, pelo aplicativo Infoleg nos celulares. Conforme o Ato da Mesa nº 189, de 2021, as sessões da Câmara e as reuniões de Comissões serão realizadas com a presença física exclusivamente dos Presidentes, Líderes e servidores em serviço. O uso de máscaras em plenário é obrigatório durante a reunião, inclusive para os Parlamentares, bem como a manutenção do distanciamento de 1 metro e meio entre as pessoas.

Nos termos do Regimento Interno da Casa, os procedimentos serão os seguintes. Será concedida a palavra aos expositores convidados pelo prazo de até 10 minutos, prorrogável a juízo da Comissão. Após, será concedida a palavra, por 10 minutos, ao autor do requerimento, o Deputado Pedro Westphalen. Por fim, os Deputados inscritos poderão falar por até 3 minutos. Em seguida, será concedida a palavra aos expositores para que apresentem suas respostas e considerações finais.

Atas.

Fica dispensada a leitura das atas, conforme o art. 5º do Ato da Mesa nº 123, de 2020.

Em votação as atas das Reuniões Extraordinárias de Audiência Pública nºs 14 e 15, ocorridas em 13 de abril de 2021, às 9h30min e às 14 horas, respectivamente, e as atas das Reuniões Extraordinárias de Audiência Pública nºs 16 e 17, ocorridas no dia 27 de abril de 2021, às 9h30min e às 14 horas, respectivamente.

As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que as aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)

Aprovadas.

Em nome do colegiado desta Comissão, agradeço imensamente a participação dos expositores nesta audiência: Ana Patrícia de Paula, Coordenadora-Geral de Atenção Especializada do Ministério da Saúde; Angelo Roberto Gonçalves, Coordenador-Geral de Saúde da Pessoa com Deficiência do Ministério da Saúde; Cristiane Martins Pantaleão, Vice-Presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde - CONASEMS; Carla Heloisa Cabral Moro, neurologista da Clínica Neurológica de Joinville; Linamara Rizzo Battistella, professora titular de Fisiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP; Marcos Christiano Lange, médico da Academia Brasileira de Neurologia; e Sheila Martins, Presidente da Rede AVC.

Vou conceder a palavra à Dra. Ana Patrícia de Paula, Coordenadora-Geral de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, que disporá do prazo de 10 minutos. Poderá ser prorrogado, mas vamos procurar seguir o que estabelece o Regimento Interno, até porque depois haverá deliberação.

A palavra está à sua disposição.

O SR. ANGELO ROBERTO GONÇALVES - Boa tarde, Deputado.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Boa tarde.

O SR. ANGELO ROBERTO GONÇALVES - Agradeço o convite. Estendo o agradecimento aos demais Parlamentares.

Ao cumprimentar a Dra. Linamara, cumprimento os demais convidados. A Dra. Linamara é uma companheira e uma grande amiga.

Meu nome é Angelo. Estou na Coordenação-Geral de Saúde da Pessoa com Deficiência. Ao meu lado está a Ana Patrícia de Paula, Coordenadora-Geral de Atenção Especializada.

É importante considerar que toda essa reabilitação, que todo esse movimento do pós-AVC, ele vem para a nossa Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. A nossa Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência está organizada na atenção primária, na atenção especializada, na hospitalar e na de urgência e emergência. É importante ressaltar que, considerado o organograma do Ministério da Saúde, estamos no Departamento de Atenção Especializada e Temática, sob a direção da Dra. Maíra, e na Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Outros departamentos que cuidam de atenção primária e atenção hospitalar ficam em outras diretorias ou em outras secretarias.

A respeito do contexto da COVID, esta é uma pandemia bastante nova, pensando-se em tempos modernos. Desde o início da pandemia, no ano passado, até o atual momento, houve grandes mudanças, aprendizados, adaptações diante do que acontece com os pacientes acometidos pela COVID. Na nossa coordenação, trabalhamos com temas relativos a deficiência intelectual, deficiência física, visual e auditiva. Nós não determinamos a reabilitação do paciente com AVE, nós o colocamos dentro da reabilitação física, mas, desde o início, em 23 de março do ano passado, já determinamos para a nossa Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência um sinal de alerta. Divulgamos uma nota informativa, passando para a nossa rede todo o serviço de habilitação, que, por meio da sua equipe multiprofissional, teria autonomia para continuar o acompanhamento dos usuários. Caso a nossa rede necessitasse fazer algum tipo de orientação, algum tipo de atendimento, deveria tomar os cuidados específicos em relação a isso.

Os serviços de reabilitação deverão estabelecer protocolos ou restrições de acesso, no caso dos pacientes, evitando aglomerações. Todos os serviços de reabilitação deverão oferecer retaguarda de atendimento aos usuários, pensando-se em sequelas após a internação por causa da COVID. Estamos falando isso em relação ao dia 23 de março do ano passado. Foi dada orientação aos usuários, tanto aos pacientes quanto aos profissionais, sobre a utilização dos EPIs, bem como sobre a notificação imediata da Vigilância Sanitária local, caso houvesse algum tipo de contaminação.

No que tange à atenção ao usuário na nossa rede, a nossa recomendação sempre foi a de que Secretarias Municipais e Estaduais, bem como a vigilância em saúde, observassem as determinações das Secretarias locais e as orientações do Ministério da Saúde para, enfim, determinarem qual seria o fluxo de andamento.

Fizemos outra nota, em junho de 2020, passando nesse momento a incorporar orientações relativas à organização do atendimento no âmbito da reabilitação, no qual os serviços de reabilitação deveriam identificar qual era o público de risco, estabelecer protocolos imediatos, caso continuassem a funcionar, e também recomendar o acompanhamento da situação vacinal dos seus usuários.

No dia 19 de setembro do ano passado, nós fizemos orientações para os nossos serviços na ação da reabilitação no contexto da pandemia. Destaco essas orientações porque foram de fundamental importância diante da demanda que estava chegando a nós, de como eles funcionariam, de como teriam orientações por meio de vídeos, já que muitos pacientes acabaram ficando em casa. Outros centros de reabilitação acabaram fechando, seguindo a determinação de Municípios e Estados.

Nessa orientação, nós apresentamos medidas relativas a biossegurança principalmente, controle administrativo, uso de equipamentos de proteção individual para toda a rede, orientações sobre organização do ambiente para acolhimento daqueles pacientes, evitando, assim, que tivessem algum tipo de contaminação.

No que concerne à nossa coordenação, às orientações de atendimento às pessoas com deficiência, durante a pandemia, não foi emitida nenhuma recomendação quanto ao fechamento dos estabelecimentos e à interrupção, de alguma forma, da reabilitação. No entanto, alguns Estados e Municípios acabaram tomando essa atitude, até mesmo como medida preventiva.

Incentivamos que os centros da nossa rede também fizessem o teleatendimento, que preparassem uma capacitação de teleatendimento. Para isso o Ministério da Saúde disponibilizou alguns vídeos, acessíveis aos que têm algum tipo de deficiência, visual, auditiva, intelectual. Houve orientações também sobre os cuidados relativos a essa pessoa com deficiência física.

Diante da suspensão de diversos serviços de reabilitação, em atendimento às determinações dos Poderes Executivos e Legislativos locais, esta coordenação passou a fornecer subsídio para a elaboração de planos individuais e específicos para retorno à atividade em si. No segundo momento, passamos a mostrar a importância desse teleatendimento. Tanto a Coordenação de Saúde da Pessoa com Deficiência quanto a Coordenação de Atenção Especializada liberaram o procedimento de teleconsulta, o teleatendimento médico e o teleatendimento para as atividades não médicas.

Ressaltamos que os Conselhos Federais de Fisioterapia, Psicologia, Fonoaudiologia, Serviço Social e Medicina também publicaram resoluções normativas que versam sobre a permissão do atendimento não presencial na modalidade de teleconsulta.

Diante do quadro e diante das características que a COVID passou a desenvolver, percebeu-se que 80% desses pacientes desenvolviam sintomas leves e moderados, e os outros 20%, sintomas mais graves - 15% tiveram necessidade de algum suporte de oxigênio, e 5% desenvolveram complicações como falência respiratória, choque, sepse, tromboembolismo e falência múltipla dos órgãos. Muitos desses pacientes acabaram entrando na nossa Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, apresentando algumas características como distúrbios respiratórios, cardiovasculares, neurológicos. Nessa situação se encontra uma série de pacientes, o que fez com que pensássemos, desde aquela época, desde aquele início, a maneira como abordaríamos esse paciente que precisa de reabilitação após contrair COVID. No momento, está sendo apresentado ao nosso departamento um projeto para que já possamos realizar a capacitação de profissionais, frente a esses cuidados da reabilitação pós-COVID.

Inúmeros centros de reabilitação já fazem a reabilitação pós-COVID, seja na nossa rede, seja na rede credenciada. Mas, pelo tamanho do Brasil, inúmeros centros ficam bem distantes e não têm esse conhecimento, não mantêm contato mais próximo para fazerem a capacitação.

Então, a UNA-SUS fez um contrato com a Universidade Federal do Maranhão, que desenvolveu um curso de reabilitação pós-COVID. Nós o estamos lançando agora. Na primeira quinzena do mês de junho, o curso já estará pronto. Hoje, ele se encontra na mão de conteudistas.

Outra estratégia foi trabalhar para que houvesse adesão à Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, oferecer algum incentivo para que eles pudessem ser assimilados.

No que tange ao paciente com AVC ou com AVE, em momento algum a nossa rede deixou de atendê-lo. A orientação da nossa coordenação foi a de que isso continuasse, entendendo que, para a capacidade e a funcionalidade daquele paciente, sobretudo em casos iniciais, é de fundamental importância a reabilitação precoce. Liberamos a nossa rede. No entanto, surgiram orientações de Estados e Municípios, e muitos da nossa rede não tiveram como dar continuidade a esse tipo de atendimento. Foi daí que surgiu o teleatendimento, que, acho, é uma modalidade que precisa ser um pouco melhor estruturada. Mas entendemos que ela veio também para ficar.

É mais ou menos isso que tínhamos a apresentar, Deputado Pedro.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Muito obrigado, Dr. Angelo, pela sua pertinente explanação.

Não sei se a Dra. Ana Patrícia quer falar também alguma coisa.

A SRA. ANA PATRÍCIA DE PAULA - Boa tarde, Deputado. Boa tarde, todos os interessados neste tema.

Com relação à COVID, acho que o Angelo abordou tudo.

A respeito dessa questão específica do AVC ou do AVE, o envolvimento atual da Coordenação-Geral de Atenção Especializada, após a recomendação da CONITEC de incorporação da trombectomia mecânica, já houve a primeira reunião de escopo, para revisão do PCDT sobre acidente vascular isquêmico.

Esse é o movimento que estamos fazendo agora para tentar organizar essa nova modalidade terapêutica.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Perfeito.

A SRA. ANA PATRÍCIA DE PAULA - Vamos ouvi-los para vermos se, na realidade, precisamos lançar mão de outras frentes.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Está ótimo. Estou muito preocupado com este tema do pós-COVID. Acho que será preciso haver políticas públicas do Ministério específicas sobre isso. Então, vai ser importantíssimo ouvi-los. Depois vou fazer considerações a respeito do que me motivou a pedir a realização desta audiência pública, sobre AVC.

Concedo a palavra à Dra. Cristiane Martins Pantaleão, Vice-Presidente do CONASEMS, pelo prazo de 10 minutos.

Muito obrigado, Dra. Cristiane. A palavra está à sua disposição.

A SRA. CRISTIANE MARTINS PANTALEÃO - Obrigada. Boa tarde, Deputado. Agradeço o convite.

Boa tarde a todos.

Eu estava aqui escutando atentamente o pessoal do Ministério falar. Foi bom. Percebemos que já existem algumas novidades que serão interessantes para os Municípios.

Como representante dos Municípios, estou buscando, desde o início da pandemia, quando fizemos uma força-tarefa, orientar os Municípios a manterem o atendimento da atenção básica, mesmo sabendo que, no início da pandemia, como foi dito aqui, tivemos problemas como falta de EPI e, ainda, algumas incertezas sobre o funcionamento do serviço.

Sabemos que alguns serviços deixaram de funcionar, principalmente na atenção básica. Mas o CONASS, o CONASEMS e o Ministério da Saúde capacitaram o País todo por meio de um guia. Esse guia trazia orientações a respeito de como organizar a rede de atenção em saúde para que se mantenha funcionando. A implantação desse guia aconteceu por meio de reuniões que o Ministério da Saúde, o CONASS e o CONASEMS realizaram com todos os Estados. Inclusive, esse guia já está na quarta edição, que traz orientações a respeito de como o serviço tem que funcionar na ponta, quais as estratégias que o Município pode utilizar para manter todo o atendimento, principalmente na atenção básica, com segurança.

Desde o início, temos feito uma força-tarefa, orientando os Municípios, a fim de lhes dar segurança e apoio técnico para que mantenham o serviço. Sabemos que tivemos muitas dificuldades, inclusive problemas relativos à manutenção dos profissionais. Muitos profissionais começaram a se cansar. Agora estamos vivendo isso de maneira mais forte do que nunca. Muitos profissionais pegaram COVID e, hoje, já não trabalham com a mesma intensidade com que trabalhavam antes de pegar COVID. Está havendo falta de profissionais muito grande em todo o País, não só de médicos mas também de enfermeiros e técnicos de enfermagem, bem como de fisioterapeutas, nutricionistas, que são, nessa fase de reabilitação, essenciais.

Estamos convivendo atualmente com essas situações, até devido às consequências da pandemia. No entanto, ainda mantemos esse diálogo permanente com os Municípios, juntamente com os Estados, a fim de apoiar os Municípios a se organizarem para manter o atendimento, principalmente na atenção básica, que mais sofreu consequências, em decorrência da pandemia nos últimos meses.

O que estamos vivendo hoje? O que estamos enxergando hoje? A quarta edição do guia foi lançada há uns 15 dias. Havia representantes de Municípios de todo o País e de Estados. Nós conseguimos levantar a situação dos Municípios hoje.

Estamos lidando com aumento considerável de pacientes crônicos, que, até por medo de sair de casa, deixaram de se cuidar durante a pandemia. Então, existe um número de pessoas classificadas como de alto risco de descontrole em relação a diversas doenças, diversas comorbidades.

Até a saúde mental dessas pessoas acaba dificultando a manutenção do controle de comorbidades. Esse é outro fator que também faz parte, infelizmente, da situação atual. Sabemos que manter a saúde mental está sendo muito mais difícil neste momento.

Municípios relataram que a saída de medicamentos que servem para fazer dormir ou para acalmar pessoas aumentou quatro ou cinco vezes nos últimos 4 meses. Imaginem, com a demanda por medicamentos aumentando cinco vezes mais nos Municípios, como está a situação dessas pessoas, e a maioria delas já tem alguma comorbidade, o que faz com que tenhamos ainda mais dificuldade para controlar isso.

Sabemos que essa questão da saúde mental é momentânea. Acreditamos que, depois que se reduzir o número de óbitos e o de pacientes contaminados, também se reduzirá o número de casos relacionados a saúde mental. Mas é claro que a situação não vai ser como era antes da pandemia. Sabemos que o descontrole em relação à saúde mental e o número de pacientes que precisam tanto de apoio psicológico quanto de medicamentos vão ser maiores do que os que existiam antes da pandemia.

A falta de profissionais aconteceu porque houve toda essa situação da pandemia e também porque aumentou a oferta de serviços. Foram abertos centros para tratamento de COVID no País inteiro, muitos leitos foram abertos, e os profissionais eram os mesmos. Muitos profissionais saíram da atenção básica, o que não é bom, e foram trabalhar nos centros de COVID, atender os pacientes que ocuparam os leitos de UTI que foram abertos, o que, naquele momento, era mais importante. Agora temos que fazer com que esses profissionais voltem para a rede de atenção básica. Neste momento, temos que pensar em como reorganizar o sistema de atendimento para voltarmos a direcionar os nossos olhares para a atenção básica. Sabemos que, naquele período, foi importante apontar o foco para os centros de COVID e para os leitos de UTI e de enfermaria, mas agora precisamos retomar os nossos olhares para a atenção básica.

Houve também muitas situações que decorreram da falta de tratamento específico para a COVID, o que levou a alguns tratamentos... Como não tínhamos um protocolo único para o tratamento de COVID, cada um estava estabelecendo de um jeito o tratamento. É claro que isso gera consequências. Estamos sofrendo hoje para tentar restabelecer o que se deve.

O que o CONASEMS vem conversando muito com o Ministério da Saúde e com os Estados sobre o que temos que focar daqui para frente?

Primeiro, temos que fortalecer a atenção básica. Se antes já sabíamos que o setor de atenção básica deve resolver 85% dos problemas e que o principal serviço a ser olhado com atenção em todos os Municípios é o de atenção básica, agora mais do que nunca isso é necessário.

Hoje, há pacientes que chegam à unidade, 3 meses depois que já sararam da COVID, com o D-Dímero muito alterado. A maioria dos profissionais da atenção básica não tem expertise para tratar dessas situações, e a maioria dos lugares no Brasil não tem especialistas para dar apoio a esse tipo de tratamento.

O número de casos de trombose vem aumentando de maneira exagerada. O paciente, na maioria das vezes, já chega ao hospital numa situação muito ruim. Muitos pacientes estão morrendo por causa de parada cardíaca, com complicações pós-COVID, 2 meses, 3 meses depois de sararem da doença, e esses pacientes têm comorbidades.

Por isso, nós até reforçamos que quem tem de ser vacinado primeiro é quem tem comorbidade, por mais que esteja havendo um forte movimento referente à educação, em que os professores solicitam que possam passar na frente das pessoas que têm comorbidade.

Nós temos muito problema com os pacientes que têm comorbidade e adquiriram COVID meses antes. Hoje, não estão conseguindo manter controlada a pressão ou, por exemplo, a diabetes. Quanto aos pacientes que contraíram COVID e têm comorbidades, estamos tendo mais dificuldade de controlar o caso deles. Por isso, temos essa preocupação.

Este é então o nosso foco: fortalecer a atenção básica, repensar a sua organização, repensar inclusive o funcionamento dos centros de triagem de COVID que foram construídos na época para atender uma demanda. Agora precisamos repensar esse atendimento.

Precisamos focar principalmente o atendimento multiprofissional, prestado por fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, assistente social, dentro da atenção básica. Sabemos que existem alguns lugares no País que nem dispõem de profissionais formados para atender essa demanda.

Precisamos, além de fortalecer a atuação desses profissionais da equipe multiprofissional na atenção básica, fortalecer as especialidades. Se já não há psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta em número suficiente, quanto mais médicos especialistas para o País inteiro.

O nosso foco precisa ser a teleconsulta. Temos que priorizar, acima de tudo, o teleatendimento, esse apoio relativo às especialidades em todo o País, e que ele seja 24 horas, porque percebemos que hoje, muitas vezes, o médico precisa ligar para um amigo especialista para tirar uma dúvida.

Se conseguíssemos organizar no País centros de referências, ainda que isso fosse feito por Estado ou por região, para que dessem apoio ao tratamento desses casos pós-COVID, com certeza conseguiríamos facilitar a resolução disso.

É o que o CONASEMS vem defendendo hoje. A intenção é criar uma comissão técnica permanente tripartite para avaliar propostas de reorganização e fortalecimento da atenção básica e apoio matricial de especialidade em relação ao tratamento desses pacientes pós-COVID.

É claro que estamos nesta reunião também para escutar um pouco e pensar, a partir desta conversa, em propostas que podem sair daqui.

Eu me coloco à disposição para sanar qualquer dúvida.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Muito obrigado, Dra. Cristiane, pela sua bem focada e objetiva explanação sobre um problema muito grave, que está afligindo todos nós. Ele é muito grave.

São impressionantes as consequências da COVID em pacientes que são assintomáticos, muitas vezes, ou que apresentam pequenos sintomas. Eu tenho lido alguns trabalhos que mostram que há pacientes que apresentam, no fundo de olho, coagulopatias, coágulos. Todo mundo sabe da fibrose, em consequência. Então, essa ação vai ter que ser realmente integrada.

Foi muito boa a sua explanação.

Concedo a palavra à Dra. Carla Heloisa Cabral Moro, neurologista da Clínica Neurológica de Joinville, pelo prazo de 10 minutos.

A SRA. CARLA HELOISA CABRAL MORO - Boa tarde.

Eu queria agradecer ao Deputado Pedro e ao Deputado Luiz Antonio o convite para participar desta audiência pública.

Na verdade, aqui estou representando a Associação Brasil AVC.

Vou agora exibir eslaides, que facilitam a exposição.

(Segue-se exibição de imagens.)

As ações da Associação Brasil AVC foram iniciadas em 2000. Ela foi oficializada em 2005. Há 15 anos, então, estamos atuando em prol desses pacientes. Ela faz parte da World Stroke Organization, é uma das entidades, e também atua no Conselho Municipal de Saúde de Joinville, que é a cidade onde exercemos nossa atividade mais fortemente.

Sabemos que o AVC é a segunda causa de morte e a primeira causa de incapacidade em nosso País. Uma a cada quatro pessoas vai ter AVC em algum momento de sua vida.

Joinville é reconhecida como referência no tratamento de acidente vascular cerebral. Joinville fica em Santa Catarina. Temos portarias relativas às linhas de cuidado do AVC desde 2012. Já temos bem estruturada uma linha de cuidado do AVC. Joinville é uma cidade que tem Índice de Desenvolvimento Humano bom, considerado o do País. Temos um hospital de atendimento de casos de AVC, o Hospital São José, e outros hospitais que também dão apoio a esse tipo de atendimento.

Joinville se destaca nessa área porque realizou várias iniciativas pioneiras, como a da unidade de AVC. Fomos pioneiros em trombólise no SUS e também iniciamos a trombectomia em 2012. Tudo ia bem, estávamos estruturando bem o nosso serviço, quando veio a pandemia.

No dia 11 de março, a Organização Mundial da Saúde declara a pandemia de COVID-19. Joinville teve o seu primeiro caso no dia 13 de março. Nos dias 17 e 18 de março, começamos a baixar todos os decretos e estabelecer as mudanças em nossas atividades.

A primeira grande mudança ocorreu dentro do hospital. Nós tínhamos uma unidade com nove leitos, com quatro leitos para casos de AIT, que é o ameaço de AVC. Nesses casos, o indivíduo nem teve o AVC ainda. Tivemos que realocar a estrutura. Então, a unidade de AVC veio para outra região do hospital, e perdemos a nossa unidade de AIT. Fechamos a unidade de AIT. Esse é o primeiro ponto.

Também houve impacto na unidade de AVC integral. Perdemos leitos e perdemos os nossos espaços de reabilitação. Então, ficamos com cinco leitos para AVC agudo e com uma unidade de AVC integral.

Qual que era a nossa preocupação? A de que a própria COVID levasse a AVC e causasse impacto na qualidade dos serviços oferecidos para casos de AVC.

O primeiro impacto foi o afastamento de profissionais que adoeceram. Muitos recursos foram direcionados para o tratamento dos casos de COVID, como leitos, recursos humanos, equipamentos.

Menciono também o problema referente à saúde mental, o problema social - aumento do etilismo, do isolamento social - e o problema econômico.

Quanto à preocupação a respeito de COVID levar a AVC, logo no início já observamos uma queda importante, de 36%, de admissões por AVC em nossa cidade, principalmente de casos leves. O que chama a atenção é que uma média de 12%, de 13% dos nossos pacientes tinham ataque isquêmico transitório - o indivíduo tem um ameaço de AVC -, e houve uma queda para 3%. Nós sabemos que, se tratarmos o ataque isquêmico transitório, evitamos em 80% um AVC maior, um AVC grave. Começamos então a perder esses casos leves. E por quê? Medo de ir ao hospital? Mudança no sistema de saúde? Isolamento social? Não estávamos bem organizados?

Realizamos algumas ações, fizemos um alerta para reorganização do cuidado referente ao AVC, consideramos como essencial, em nossa cidade, o atendimento de casos de AVC e orientação também para o SAMU sobre os fluxos corretos. A associação começou a fazer campanhas mostrando a importância de se acionar o SAMU. Começamos com a campanha #avcnaofiqueemcasa. Em caso de suspeita de AVC, o paciente deveria ir ao hospital, era seguro ir ao hospital, havia rotas diferentes dentro do hospital. Essas foram as ações.

Esta imagem é a de uma senhora que estava sozinha, os filhos estavam indo pouco à casa dela, devido ao isolamento social, e ela acabou tendo um quadro de AVC leve. A filha só a viu horas depois, quando foi levar as compras para a mãe.

Na atenção primária, tivemos algumas portarias. Uma portaria reduziu a oferta de unidades básicas de saúde em 30%, porque as restantes se tornaram unidades sentinelas para tratamento de casos de COVID. Os pacientes com doenças crônicas ficaram sendo atendidos por meio do Web Saúde e do Telessaúde.

Fizemos uma força-tarefa para que os casos de AVC e de doença cardíaca tivessem atendimento presencial em até 30 dias após a alta hospitalar. Ainda assim, temos aqui dois exemplos de pacientes que perderam o segmento de anticoagulação e foram internados por causa de AVC hemorrágico. Esses pacientes tinham pouca ou nenhuma incapacidade prévia - um deles era muito jovem, tinha 54 anos -, e foram a óbito por AVC hemorrágico. Observamos, então, um aumento na incidência de AVC hemorrágico relacionado a anticoagulação.

Os agentes de saúde pararam de fazer visitas domiciliares, e toda a equipe multidisciplinar da unidade básica foi alocada para o Web Saúde e o Telessaúde. No momento inicial, o atendimento ambulatorial de reabilitação foi suspenso e toda a equipe foi alocada para o hospital.

Esta imagem nos mostra um paciente jovem com AVC hemorrágico. Começa com espasticidade 1 mês depois. Seu caso é agendado para avaliação da toxina botulínica, só que não recebe esse atendimento. Conseguimos observar aqui que há uma espasticidade instalada. Qual é a nossa preocupação? Nós não queremos deixar o individuo assim. Então, é importante que o paciente tenha acesso à reabilitação.

Em 2020, houve redução das internações relativas a casos leves. O que vamos ver agora? Provavelmente recorrência, com eventos mais graves, perda desses pacientes; dificuldades de segmentalidade básica e ambulatorial, recorrência, pela não prevenção secundária adequada; redução na oferta de reabilitação. Isso vai causar um impacto na independência dos indivíduos, um impacto para o indivíduo e sociedade.

O que Joinville conseguiu fazer para tentar minimizar isso? Aumento do número de leitos de UTI, em 66%; implantação de um hospital de campanha numa UPA; aumento de pontos de oxigênio nas UPAs; ampliação do número de leitos não direcionados ao tratamento contra a COVID; ampliação do quadro de servidores; ampliação do horário de atendimento nas unidades básicas de saúde.

Quais seriam as sugestões da Associação Brasil AVC para minimizar o impacto dessa patologia envolvida pela COVID? Realização de campanhas fortes, que falem sobre os sinais e sintomas de AVC, estimulando os indivíduos a procurarem o atendimento precoce relativo a AVC, uma vez que existe tratamento. Por isso existe a campanha #avcnaofiqueemcasa, que estimula a ida ao hospital quando houver suspeita de AVC.

Outra sugestão: busca ativa desses pacientes que possuem fatores de risco. Se eles não estão indo à unidade básica, se eles não estão sendo acompanhados, existe essa busca ativa para começar ou retornar (falha na transmissão) área secundária.

Nas unidades básicas, deve-se fazer o rastreio dos pacientes que têm necessidade de reabilitação. Talvez se deva criar alguns check-lists em que se indique dor, rigidez, alteração de equilíbrio, para que esses pacientes tenham prioridade no retorno à reabilitação.

Para concluir, digo que não é aceitável que, devido à pandemia de COVID-19, aumente o número de indivíduos incapacitados por AVC. A pandemia vai passar, mas o impacto das sequelas de um AVC num indivíduo acometido por isso e em seus familiares estará presente no restante da vida deles.

Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - A situação é extremamente preocupante. Concordo, precisa haver integração entre Municípios. Essa experiência de Joinville vai ser sensacional, vai ser muito necessária na conduta pós-pandemia. Realmente, a experiência de vocês e os dados são impressionantes, quanto a subnotificação, aumento do número de casos, conduta, razões de isso estar acontecendo.

Muito obrigado, Dra. Carla. Gostaria que ficasse aqui presente. Ao final, tenho algumas considerações a fazer.

Concedo a palavra à Dra. Linamara Rizzo Battistella, professora titular de Fisiatria da Faculdade de Medicina da USP, pelo prazo de 10 minutos.

A SRA. LINAMARA RIZZO BATTISTELLA - Obrigada pelo convite.

É um prazer enorme estar aqui com vocês, vendo alguns amigos, mesmo que por uma tela: a Carla, a Sheila, o Angelo, lá do Ministério, a Cristina. Esta não deixa de ser uma oportunidade.

(Segue-se exibição de imagens.)

Vou falar um pouquinho olhando para esta apresentação. Estão vendo a minha tela?

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Sim, estamos vendo.

Aproveito a oportunidade para dizer que também está conosco aqui o Deputado Dr. Zacharias Calil, eminente cirurgião, um dos melhores do mundo em casos de cirurgia para separação de xifópagos.

Por favor, Dra. Linamara, a senhora está com a palavra.

A SRA. LINAMARA RIZZO BATTISTELLA - Estamos vivendo duas pandemias ou, pelo menos, o somatório de dois grandes problemas, a COVID e o AVC, que continua sendo um grande problema.

Farei um overview sobre o que acontece com pacientes 9 meses depois da alta da internação. É evidente que o Hospital das Clínicas só internou pessoas que apresentavam casos graves. Portanto, era esperado que houvesse realmente muitas complicações. De fato, existiram, e nós cuidamos de tratar esses pacientes.

Depois de 9 meses, com processo intenso de acompanhamentos na UTI, nas unidades críticas, na transição e no ambulatório, nós ainda encontramos 71% dos pacientes com limitação: presença de dor neuropática importante, desconforto, muitas alterações psicoafetivas, emocionais - ansiedade, depressão -, presença de dispneia, que temos de tratar de forma pragmática. Muitas vezes não é o pulmão, são as questões musculares, a fraqueza, o medo, a condição psicoafetiva. A questão pulmonar é relevante, mas ela não anda sozinha.

Olhemos para questão referente ao AVC, só para fazermos um paralelo. Existem lesões encefálicas importantes que cursam com o AVC, que cursam com a COVID. Provavelmente estamos falando de um somatório de eventos no paciente com COVID que vão se associar ao que já acontece com o AVC.

Estes são CIDs que pesquisamos quando queremos fazer um levantamento na base de dados do SUS, sobre as AIHs que foram disponibilizadas no Brasil inteiro nos últimos anos. De 2017 para 2020, houve um crescimento expressivo. As internações por AVC alcançaram um número bastante importante. Em 2021, havendo ainda um pouco do que aconteceu em 2020 - considerada a competência e o momento da internação, nem sempre estamos falando do início do mês -, são mais de 37 mil internações por AVC. Eu até fiquei surpresa, porque estamos vendo que os pacientes estão recebendo um acolhimento no nível hospitalar.

Estou olhando o que acontece em São Paulo. Tenho mais dificuldade para ter acesso a todas essas informações do Brasil. Quando olhamos o que acontece em São Paulo, vemos que houve realmente uma variação pequena na média anual de internações, de 0,03%, provavelmente em função da menor procura ou das questões que envolvem as dificuldades hospitalares. Acho que houve uma procura menor. Em compensação, no nível ambulatorial, aconteceu uma redução expressiva do número de atendimentos. Quando olhamos o que acontece no Brasil como um todo, estamos olhando só internação, olhando todos os diagnósticos que contemplam AVC. Eu posso falar de um íctus agudo ou de uma consequência imediata ainda aguda, mas não de um íctus efetivo, aquele que leva o indivíduo muitas vezes para a UTI. Tenho um número expressivo de internações. Posso até dizer que diminuiu 20%, quando considero o ano anterior, mas não deixou de existir.

Quando olhamos para os ambulatórios, isso vale para o Brasil inteiro. Eu fiz aqui um recorte dos atendimentos ambulatoriais do meu Estado, onde nós fizemos um esforço enorme para que não houvesse prejuízo a nenhum tipo de paciente. Nós podemos observar, olhando o que aconteceu nas médias de 2017 a 2019 e na de 2020, que, ainda assim, houve uma redução de 43% no número de pacientes chegando aos ambulatórios. A somatória das consultas tem um significado: os pacientes que não conseguiram se locomover, por dificuldade de transporte, pela quarentena obrigatória e necessária, que foi o que salvou muitas vidas, e pela questão real do medo do paciente de vir para o tratamento. Naturalmente, todo o sistema estava voltado para aquilo que era emergente e necessário, que era a questão do atendimento do paciente pós-COVID.

Quando nós olhamos o que aconteceu, é fácil observar que houve uma diminuição expressiva, de em torno de 28,8%, no número de consultas e atendimentos e uma redução de 6,6% no número de tratamentos clínicos, que variam desde uma intervenção menor, feita no ambulatório, até um tratamento especializado.

Efetivamente reduzimos os atendimentos. E nós conseguimos até entender... Corroboro o que a Carla falou e certamente a Cristiane, do CONASEMS, também lembrou: há dificuldades quando nós deslocamos todo mundo de um atendimento especializado na UTI para um atendimento nas enfermarias agudas e de transição. Os pacientes ficaram com menos suporte na fisioterapia. As terapias especializadas tiveram uma pequenina redução.

Órteses, próteses e materiais especiais também, de alguma maneira, foram menos oferecidos, e não porque faltassem. Nós temos controle absoluto sobre a oferta de órteses e próteses e materiais especiais no Estado de São Paulo. Efetivamente, o paciente muitas vezes não foi buscar nem o que estava prescrito. Os bloqueios, que são um tratamento que faz muita diferença na vida dos pacientes, também apresentaram uma redução expressiva, não por falta de atendimento ou até do insumo, mas muito pela falta da chegada do paciente.

Nós já entendíamos que esse seria um problema, tanto assim que, no final de 2020, nós já publicamos um trabalho mostrando o que estava acontecendo com a reabilitação, quais seriam os esforços para fazer a manutenção dos cuidados dos serviços essenciais sem reabilitação, mostrando a importância de nós trabalharmos com essa visão da reabilitação ao longo das etapas do cuidado, que é também a visão do Ministério da Saúde, como signatário do Reabilitação 2030, da Organização Mundial de Saúde.

Portanto, o Brasil conhece as necessidades. É que muitas vezes falta espaço para que se possa garantir o melhor atendimento ao longo da linha de cuidado para todos os Municípios, efetivamente, com toda a qualidade que deve ser oferecido. Mas nós entendíamos que era preciso construir... O mundo inteiro tem esse mesmo foco, está vivendo a mesma preocupação de otimizar, não deixar que se perca funcionalidade, porque funcionalidade é o melhor espelho da saúde. Não é a doença que nós temos - é claro que a doença importa -, mas o quanto de funcionalidade que ela nos rouba, nos tira, que nos impede de ter uma vida plena, produtiva.

Então, o mundo inteiro estava olhando para isso, e todos estavam preocupados com a maneira como iríamos garantir que não se desse um passo atrás, mas, ao contrário, se construíssem inovações na assistência que nos permitissem garantir que esses pacientes fossem efetivamente acompanhados.

A partir das diretrizes do Ministério da Saúde, nós imediatamente iniciamos um processo. E, graças ao Governo do Estado de São Paulo, com um suporte tecnológico muito diferenciado, nós começamos a fazer o teleatendimento e esse telemonitoramento da ligação telefônica, que é muito maior do que imaginamos. Ele envolve uma série de debates e aplicativos, que eu vou ter a oportunidade de mostrar, e é feito principalmente com os pacientes com maior risco de complicações ou com dificuldades de transporte. Assim, nós podemos manter, com o cuidador à distância, as orientações que a equipe médica e multiprofissional fornece, dando atendimento, esclarecimento e mantendo o paciente acolhido. Isso é muito importante. Mas é claro que o fundamental é a continuidade dos cuidados de reabilitação.

Esse atendimento híbrido, diminuindo o presencial, originou um novo conceito em termos de possibilidades e limites da telerreabilitação, do teleatendimento. Hoje, com as novas plataformas, nós temos conseguido manter os pacientes bem atendidos e responder de forma imediata às suas dúvidas. A telerreabilitação se colocou, no panorama do nosso hospital, como uma ferramenta preciosíssima e muito bem aceita pelos nossos pacientes. Realmente, é surpreendente o quanto tanto os médicos como as equipes de reabilitação conseguiram acessar, conectar os pacientes e trazê-los para dentro da reabilitação.

Não fizermos nada que o mundo já não tivesse feito. Vemos aqui alguns exemplos. Vejam como funciona a Rede de Tele-AVC na Catalunha e como as condições neurológicas são tratadas em vários centros de grande expressão, como o Kaiser Permanente, que faz um acompanhamento de situações bastante dramáticas do ponto de vista de saúde por telemedicina e por telerreabilitação com pleno sucesso, com medidas. É importante termos a garantia de que tudo que nós fazemos tem uma métrica e uma capacidade de avaliar o paciente.

Por último, há os aplicativos, distribuídos para todos os pacientes com COVID, que faziam a avaliação do estado psicoafetivo, emocional, da possibilidade de uma depressão, que é muito frequente no paciente com COVID, mas que também avaliavam a funcionalidade. São aplicativos que nós recebemos na nossa plataforma. O paciente os acessa e recebe de imediato uma informação que responda à sua necessidade. Tudo isso é manejado por inteligência artificial e recebido na nossa plataforma. Então, a distância, eu consigo identificar quais são os pacientes que estão em maior risco e posso, inclusive, chamá-los para um atendimento.

Essa foi a lógica que nós usamos, do ponto de vista de entender quem era esse paciente e de que maneira nós poderíamos ajudá-lo.

Eu espero ter ficado dentro do tempo. Fiz a maior força para passar todas as informações dentro desse tempo e mostrar que é possível, sim, aproveitar as tecnologias, garantir que os nossos pacientes tenham o melhor atendimento e não deixar ninguém de fora. Essa foi a luta do Hospital das Clínicas. Esta foi a decisão que nós da Rede Lucy Montoro tomamos: buscar tecnologias que pudessem efetivar o nosso compromisso de ter o paciente como centro do nosso objeto, como centro da nossa atenção, oferecendo para ele o melhor do nosso conhecimento.

Certamente, não respondemos a todas as questões, não exaurimos todas as dificuldades, mas superamos as principais barreiras, mostrando que o teleatendimento, que, de forma absolutamente adequada, foi estimulado pelo Ministério da Saúde - e tomara que seja fortemente regulamentado -, significa um avanço e pode significar uma democratização do atendimento. Hoje nós atendemos pacientes no Brasil inteiro. Em todos os cantos deste imenso País, há alguém que é capaz de conectar o nosso paciente, trazer de volta todas as informações que nós precisamos e levar as informações que podem significar mais saúde, mais funcionalidade para os nossos pacientes.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Muito obrigado, Dra. Linamara, pela sua consistente e atual apresentação. Há uma convergência em relação à importância da telemedicina, da telessaúde, para levar aos mais longínquos lugares do Brasil a experiência e o tratamento adequado nesta pandemia. Nós não sabemos ainda, acho, nem 50% do que acontecerá no pós-pandemia, mas essas experiências e essas atuações são fundamentais. Como em toda guerra, há muitas mortes, muitas desgraças, mas há também muitos aprendizados, muitos avanços. Foi no meio de uma guerra que a penicilina apareceu. A telemedicina, a telessaúde, à distância, com qualidade, vieram para ficar. O importante agora é nós a regulamentarmos, para que ela seja bem utilizada, sem massificá-la de maneira inadequada, mas, sim, da maneira como vocês fazem na USP, já demonstrada de maneira brilhante por V.Sa.

Muito obrigado, Dra. Linamara. Gostaria que a senhora ficasse até o final.

Estamos com a presença também do Deputado General Peternelli - muito obrigado, Deputado Peternelli.

Concedo a palavra, agora, ao Dr. Marcos Christiano Lange.(Pausa.)

A SRA. LINAMARA RIZZO BATTISTELLA - Deputado, quero pedir que me desculpe: eu não sei se conseguirei ficar até o final. Vou tentar ficar o maior tempo possível, mas talvez eu tenha que sair antes de acabar a reunião.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Então, depois que nós fizermos o encaminhamento, eu vou entrar em contato com a senhora, se a senhora não puder ficar. Eu tenho muitas preocupações e vou fazer alguns questionamentos. Eu os farei individualmente à senhora ou a quem tiver que sair. Não há nenhum problema. Mas eu gostaria de manifestar minhas preocupações e o porquê de eu ter pedido esta audiência pública sobre a situação dos pacientes pós-AVC na pandemia. Muito obrigado pela sua colaboração. Vou demandar a senhora pessoalmente.

A SRA. LINAMARA RIZZO BATTISTELLA - Será um prazer. Estarei sempre à sua disposição.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Aliás, estive ontem em São Paulo, na FIESP, com o Ministro, tratando do tema.

Tem a palavra o Dr. Marcos Christiano Lange, médico da Academia Brasileira de Neurologia, pelo prazo de 10 minutos.

O SR. MARCOS CHRISTIANO LANGE - Boa tarde a todos.

Muito obrigado, Deputado Pedro e todos os presentes.

Eu aqui represento a Academia Brasileira de Neurologia, que é a especialidade médica que atua mais intensivamente com pacientes com doença cerebrovascular, com acidente vascular cerebral, que é o que está sendo abordado aqui no tema. Sem dúvida, a Profa. Linamara e a Dra. Carla, que me precederam, já expuseram todas as informações importantes quanto à gravidade da situação do paciente de AVC na pandemia.

Eu vou aproveitar meus primeiros minutos para mostrar (falha na transmissão). O acidente vascular cerebral não (falha na transmissão) naquele momento em que o paciente tem aqueles sintomas agudos. A Carla comentou os sintomas súbitos do AVC, que têm que ser ensinados à sociedade. A Academia Brasileira de Neurologia, juntamente com vários dos seus profissionais, desde 2006, pratica uma educação continuada em campanhas, como a campanha do Dia Nacional do AVC.

Hoje, nós temos aqui conosco também a Dra. Sheila, que trabalha fortemente nesse processo neste período. Isso já fez uma mudança nos pacientes. Muitos deles hoje chegam ao hospital em tempo hábil para serem ofertadas algumas terapias que mudam seus prognósticos.

Mas essa doença, na verdade, começa antes. Começa em torno dos 30 anos ou 40 quarenta anos, quando aquele paciente com pressão alta, com diabetes, com dislipidemia não faz o tratamento adequado na prevenção primária. Então, todo o início dessa doença está relacionado à prevenção primária, ao controle do tabagismo, do estresse e da obesidade, além desses outros fatores que eu comentei com vocês.

Se isso não acontece, sem dúvida nenhuma, o paciente acaba tendo um evento com sequelas graves. A Dra. Carla já demonstrou isso nos eslaides dela. São situações extremamente dramáticas. Os pacientes têm sequelas que limitam sua função. Muitos de nós conhecemos pessoas que tiveram AVC em torno dos 50 anos ou 55 anos e eram os responsáveis por manter a família. A partir daquele momento, elas começam a exigir o cuidado de outras pessoas. Elas não têm mais independência funcional nem para trabalhar, nem para fazer suas atividades simples da vida diária, como escovar os dentes e se vestir sozinho.

Sabe-se hoje que a doença cerebrovascular, o AVC, é a maior causa de morbidade e de sequelas na nossa população. Isso é extremamente grave. Muitos de nós conhecem pacientes que, 3 meses depois de sofrer infarto, estão no seu trabalho, estão dirigindo o seu carro. Mas 40%, 50% dos pacientes pós-AVC que sobrevivem ficam com sequelas importantes. Então, a melhor forma de evitar isso é a prevenção primária. Isso é muito claro para todos nós.

A partir do momento em que o paciente tem um AVC, as coisas mudam. Esse processo não depende somente dele e da sua família, mas de uma equipe multiprofissional, que atua desde a identificação desse AVC. Hoje, uma grande parte das cidades do nosso País tem o sistema de atendimento móvel de urgência, o que modifica o prognóstico desses pacientes. Aqui mesmo, em Curitiba, nós já trabalhamos com isso desde 2009. Nossa velocidade no processo de atendimento faz muita diferença. Os pacientes chegam antes ao hospital e chegam diretamente aos locais aonde eles devem ser atendidos (falha na transmissão).

Eu peço desculpas. Eu estou participando pelo meu telefone. Meu filho está fazendo aula remota, então eu tive que ficar com o celular. Por isso, às vezes, pode entrar uma ligação.

O paciente que recebe atendimento rápido pela ambulância tem que ser deslocado diretamente para um centro de atendimento do paciente com AVC. Não adianta esse paciente ir para uma unidade de pronto atendimento ou para um hospital que não tenha essa condição, porque ele estará perdendo tempo e, quanto mais tempo nós levarmos para tratá-lo, maior será o risco de sequelas.

A partir das Portarias nºs 664 e 665, do Ministério da Saúde, de 2012, quando foram colocadas as unidades de AVC em nosso País e a terapia de reperfusão por meio da trombólise endovenosa, algumas mudanças já começaram a acontecer nesse cenário hospitalar, porque nós passamos a poder ter fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoterapeuta, nutricionista nesse mesmo ambiente. Esses pacientes começaram a ganhar uma reabilitação muito mais adequada no sistema hospitalar. Porém, infelizmente, até os dias de hoje, não conseguimos manter essa mesma condição do sistema pós-hospitalar. Então, esse paciente sai do hospital, vai para a sociedade, vai para sua unidade de saúde, e sabemos das dificuldades que essa unidade tem em manter essa formação. Os colegas que me antecederam comentaram isso. Se não temos fisioterapeuta em todo o País, que dirá fisioterapeuta com habilidades e especialidades específicas para reabilitar o paciente neurológico, que é totalmente diferente de um paciente ortopédico, por exemplo. Isso não quer dizer que o ortopédico seja mais fraco, seja de menor importância, mas cada um tem o seu equilíbrio para isso. Então, nós já sabemos que estamos diante dessa situação, que é extremamente grave.

Nosso paciente sai do nosso hospital com uma reabilitação adequada e, após 3 ou 6 meses, ele volta com uma deterioração da sua função, porque ele não teve condições de pegar o seu ônibus e se deslocar ou mesmo de ter acesso a uma reabilitação próxima à sua residência.

E o que a COVID fez foi simplesmente demonstrar esta situação e agravá-la ainda mais, como a Dra. Carla e a Dra. Linamara comentaram. Observamos que, a partir do momento em que veio a pandemia da COVID, esse sistema de reabilitação, que já era extremamente frágil, quase deixou de existir. Ilhas de conhecimento, ilhas de pessoas estão batalhando para que isso tenha uma mudança.

Nós mesmos, no Hospital de Clínicas, também estamos usando ferramentas de telemedicina para fazer essa telerreabilitação a fim de permitir que esse paciente tenha um certo grau de manutenção das suas condições e retorne à sua funcionalidade. Mas isso ainda é muito pouco. Nós sabemos que esse processo precisa de um longo tempo de adaptação. Esses pacientes com AVC são extremamente complexos. Eles não dependem somente de um neurologista, como eu, ou de um fisiatra, como a Dra. Linamara; eles precisam de uma equipe multidisciplinar especializada na atuação. Então, nós temos que buscar isso por meio de estratégias, em conjunto, sem dúvida nenhuma, com os nossos gestores, com os Deputados e com todas as outras pessoas que estão interessadas nesses pacientes.

A Carla está aqui representando a Associação Brasil AVC. Essas associações são fundamentais. Apesar de muitas delas serem extremamente pequenas, estão batalhando todos os dias, dia após dia, com pessoas voluntárias para fazer a diferença para essas pessoas.

Então, nós lidamos com uma doença extremamente grave, que deixa muitas sequelas na nossa sociedade. E a vinda da COVID, que também causa AVC - infelizmente, a COVID é um dos eventos que aumentam o risco de esses pacientes terem um acidente vascular cerebral -, agravou ainda mais essa situação.

Outro ponto sobre o qual nós temos que refletir é o estresse - a nossa colega Cristiane comentou isto - das equipes que atuam diante desses pacientes. Hoje, elas não aguentam mais exercer a sua atividade de forma plena, pois estão em níveis de estresse enormes. No consultório, todo dia, identificamos que a maior parte dos pacientes está com depressão, está com ansiedade. Existe uma situação de estresse pós-traumático muito grave que já acontece no AVC. Nós conhecemos isso. Aproximadamente 25% dos pacientes pós-AVC desenvolvem um grau de ansiedade, que é o estresse pós-traumático, que faz com que eles entrem em pânico, por medo de terem um novo evento vascular cerebral. E a COVID está fazendo isso com muitos mais de nós.

Então, nós estamos vivendo uma pandemia de doença grave, sem dúvida nenhuma, que vai mudar o contexto social, e nós temos que aproveitar esta oportunidade para fortalecer o sistema, permitindo que pacientes tenham acesso à reabilitação de forma adequada e sejam aderentes ao seu tratamento.

A Carla comentou a situação dos anticoagulantes. Isso é extremamente grave. Um paciente em uso de anticoagulante não conseguiu ter acesso ao acompanhamento médico e acabou tendo um evento hemorrágico. Esse paciente veio a falecer por causa desse evento, que não foi possível controlar pelas barreiras que estavam acontecendo no momento.

Então, como representante aqui da Academia Brasileira de Neurologia e dos neurologistas que atuam na doença cerebrovascular, nós estamos à disposição para trabalhar com vocês a fim de buscarmos e encontrarmos juntos o melhor caminho para todos os nossos pacientes.

Deputado Pedro e demais colegas, eu agradeço a oportunidade de estar aqui com vocês e fico à disposição.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Muito obrigado, Dr. Marcos. V.Sa. abordou tudo com o brilhantismo que lhe é peculiar, falando tanto da prevenção do que causa o AVC quanto da necessidade do tratamento em centros de qualidade especializados. Isso aí depende, efetivamente, do pós-AVC, bem como da recuperação posterior. O principal obstáculo é a falta de pessoas qualificadas para fazer essa reabilitação e também desse centro especializado.

Embora as Portarias nºs 664 e 665 regulamentem e criem centros de excelência, nós temos ainda falta deles no Brasil. Aí, entra a telessaúde, ou telemedicina, que precisa ser muito bem regulamentada para que possa haver o treinamento de pessoas que não estejam treinadas. E o grau de estresse dos profissionais de saúde também está muito grande.

Então, parabéns pela sua explanação muito concisa, precisa, eficiente, eficaz. Certamente, nós vamos produzir um relatório aqui, depois desta audiência pública, que eu tenho a convicção de que vai ajudar muito as nossas autoridades de saúde nacionais, estaduais e municipais.

Muito obrigado.

Se V.Sa. puder ficar conosco, Dr. Marcos, eu vou gostar muito. Se V.Sa. não puder ficar, eu vou lhe encaminhar depois algumas questões. Certamente, eu vou dar um encaminhamento no final, depois das manifestações dos colegas que aqui queiram se manifestar. Eles estão em várias atividades ao mesmo tempo. Vários passaram por aqui e já me pediram o relatório. Depois eu vou passá-lo a todos os Deputados.

Tem a palavra a Dra. Sheila Martins, Presidente da Rede AVC, pelo prazo de 10 minutos.

A SRA. SHEILA MARTINS - Boa tarde a todos. Muito obrigada pelo convite. É um prazer estar aqui.

Eu quero colocar para vocês que a Carla, o Marcos e eu trabalhamos muito nessas ações juntos. Então, em toda essa organização do atendimento do AVC que nós vimos fazendo no País nós temos trabalhado juntos.

A Rede Brasil AVC foi fundada em 2008 com o objetivo de auxiliar o Ministério da Saúde na elaboração e na implementação da Linha de Cuidado do AVC. Então, nós temos trabalhado juntos nela desde então. Isso vem crescendo bastante.

O Dr. Pedro já falou das Portarias nºs 664 e 665. Apesar delas, nós ainda precisamos aumentar muito o número de centros e qualificar toda essa população.

E agora, com a pandemia, nós realmente tivemos um grande problema. A redução imediata do número de casos, como a Carla já mostrou, não foi só em Joinville, mas no mundo inteiro. Então, com o início da pandemia e com a informação de que as pessoas têm que ficar em casa - e realmente eu concordo com isso -, elas ficaram com medo de sair mesmo tendo problemas graves. Então, nós tivemos uma redução imediata do número de pacientes chegando com AVC aos hospitais. Começou uma campanha no Brasil inteiro para alertar as pessoas de que isso não podia acontecer. Então, a campanha O AVC Não Fica em Casa nos auxiliou, porque, em 2 ou 3 meses, começou, de novo, a aumentar o número de casos que chegavam ao hospital.

E o que aconteceu por esta questão de as pessoas ficarem mais em casa, não irem às consultas, com pouco acesso à teleconsulta, principalmente nos meses iniciais, e com pouco acesso à reabilitação? O que aconteceu foi que, no final do ano, nos meses de outubro, novembro e dezembro, explodiu o número de casos de AVC. Muitos AVCs chegaram aos hospitais - até mais do que antes - mais graves e mais tarde. Se compararmos o número de pacientes que conseguiram receber terapia trombolítica, o tratamento do AVC, no ano anterior, com o número no ano de 2020, veremos que houve uma diminuição de metade dos casos, porque as pessoas começaram a chegar muito tarde e não puderam receber tratamento. E isso significa mais sequelas.

Nós temos um levantamento no País sobre os pacientes pós-AVC. Trabalhamos junto com as associações de pacientes para avaliar como é que eles estavam nesta pandemia, e 70% deles falaram que as consultas de revisão e de prevenção tinham sido canceladas e que metade delas não foi remarcada. Então, simplesmente, as pessoas ficaram sem o atendimento.

Dos pacientes nessa avaliação, que foram mais de mil sobreviventes de AVC, só 16% tiveram acesso a consultas por telemedicina. Isso mostra que esse acesso realmente ainda está muito pequeno no nosso País. Aqueles que tiveram acesso à consulta de prevenção por telemedicina ficaram muito satisfeitos.

Ainda perguntamos para essas pessoas quantas delas estavam fazendo reabilitação ou, pelo menos, alguma atividade física, e apenas 25% delas responderam que estavam fazendo. As que não estavam fazendo apresentaram vários motivos. Algumas não tinham espaço; outras não tinham acesso à reabilitação nessa fase. Além disso, 67% dessas pessoas falaram que não iriam para o hospital caso tivessem um novo sinal de AVC ou um sinal de uma doença mais grave justamente por medo da COVID-19. Isso mostra, sim, a importância de educarmos essas pessoas e, realmente, termos um sistema organizado para atendê-las na urgência, no atendimento do AVC agudo; na prevenção, porque a prevenção é fundamental e não pode parar neste momento; e na reabilitação.

A Carla contou sobre o anticoagulante. Tivemos um paciente hoje que parou a anticoagulação nas últimas semanas por dificuldade de coletar o TP e hoje veio para o hospital com um AVC isquêmico porque não estava usando o anticoagulante que preveniria esse AVC. Então, realmente, tivemos um grande prejuízo no cuidado como um todo. E agora nós estamos com um programa, junto com o Ministério da Saúde, a ser implementado na atenção primária. É um programa importante, de melhoria da prevenção do AVC, do infarto e das doenças cardiovasculares, só que ele está muito atrasado por causa da pandemia. O que vemos é a resposta de sempre: "Ah, nós estamos muito envolvidos com a pandemia". Isso é fundamental. Entendemos o estresse dos profissionais de saúde na atenção primária, que lidam com isso agora. Mas não podemos esquecer que os pacientes estão aí, que a hipertensão tem que ser tratada, a dislipidemia tem que ser tratada, o fibrilado, o anticoagulado, para que evitemos uma doença mais grave, como um AVC ou um infarto, e não tenhamos depois que tratar as sequelas nesses pacientes.

Então, realmente, nós temos tentado trabalhar em todas essas frentes. Mesmo na pandemia, nenhum de nós parou. Todos nós estamos trabalhando fortemente para manter os serviços de AVC nos hospitais, para melhorar a atenção com a telemedicina, principalmente nessa fase fundamental, tanto no atendimento de urgência, que nós já temos utilizado em vários hospitais do País, quanto na prevenção e nas consultas. Aquele paciente que não precisa voltar pode ser atendido por teleconsulta. E eu acho que tem que ser oficializado o atendimento da reabilitação por telemedicina nessa fase. Além disso, assim que possível, precisamos trazer o paciente de volta aos nossos hospitais para fazer reabilitação.

Nós estamos sempre disponíveis para ajudar no que for preciso. Temos um trabalho grande em todo o nosso País com os neurologistas e um grande contato com os pacientes também. Como o Marcos já falou, há uma enorme campanha de alerta em relação ao AVC para a nossa população, e já começamos agora, no final do mês de maio, a trabalhar. Vai ser melhor ainda se tivermos o apoio de vocês para orientar a nossa população sobre essa doença tão grave, que pode ser prevenida e tratada.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - É claro. Nós é que vamos precisar da ajuda de vocês, sem dúvida nenhuma. Muito obrigado, Dra. Sheila, Presidente da Rede AVC.

Essa sua interação com a Dra. Carla e o Dr. Marcos é fundamental para que consigamos chegar a uma política pública voltada a essa patologia, que, em cada quatro, um terá no Brasil - só isso já a dimensiona. E a situação foi agravada pela pandemia, sem dúvida nenhuma.

Deputados Dr. Zacharias Calil e General Peternelli, eu vou fazer algumas considerações aqui, rapidamente, sobre o porquê desta audiência. Eu sou médico, sou ginecologista e cirurgião vascular. Fui; agora eu sou Deputado. Aliás, sou; estou atualmente emprestado como Deputado. Vi necessidade de fazer esta audiência. Os motivos foram muito bem elencados por todos os nossos palestrantes. Um deles é a necessidade de novos protocolos, como foi abordado no início pelo Angelo. É unanimidade a importância da teleconsulta, da telemedicina e da telessaúde para que se possa massificar o bom atendimento.

Minhas preocupações vieram quando comecei a constatar justamente a baixa comunicação do AVC, o medo do paciente de ir ao hospital. Aliás, as patologias reprimidas, as doenças reprimidas, vão ser muito grandes. Nós vamos ter câncer em estágio mais avançado, nós vamos ter cardiopatias em estágio avançado, nós vamos ter diabetes descontrolada. Os pacientes fugiram, inicialmente, por orientação até da Organização Mundial de Saúde e, depois, das próprias autoridades sanitárias, até porque a doença COVID-19, sendo nova, se iniciou como se fosse uma doença pulmonar, virótica. Depois se viu que era uma doença sistêmica, tromboembólica, que atingia vários órgãos. De qualquer maneira, a determinação de não ir aos hospitais ou aos postos de saúde fez com que pacientes com comorbidades não tratassem suas comorbidades. E o AVC chamou muita atenção, porque aumentou muito, depois que os pacientes começaram a ter AVC por não irem aos hospitais e não fazerem a prevenção, tão bem comentada pelo Dr. Marcos na sua explanação.

A prevenção começa quando a pessoa nasce. Trata-se de cuidar da saúde: fazer sua vacinação correta, sua alimentação adequada, sua atividade física, todas aquelas considerações que são extremamente fundamentais para que a pessoa tenha uma vida saudável. Mas, realmente, a partir de certa idade, não fumar, não beber e evitar a obesidade são controles necessários.

Mas, especificamente durante a pandemia da COVID, essa patologia aumentou muito. Eu comecei a ficar preocupado quando vi alguns trabalhos que nos davam alguns prognósticos perigosos. Por exemplo, foi feita uma porção de exames de fundo de olho em pacientes que tiveram sintomas leves da COVID, e, em quase todos eles, havia alguma trombose no fundo de olho. Trombose dá fibrose, e fibrose dá consequência. Depois, vi outro trabalho sobre atletas de alta performance. Por exemplo, na Champions League, a liga europeia de futebol, um grande número de atletas tiveram COVID. Eles, quando voltavam, ficavam em má fase. Por que em má fase? Porque eles precisam de muita energia, precisam de musculatura. Aí se começou a associar essa perda de força à doença. Como foi dito aqui pelos nossos palestrantes, muitas pessoas voltam com menos capacidade de trabalho.

A doença atinge músculos, e o coração é um músculo, o miocárdio. Viu-se depois das necropsias que há uma cardiopatia, uma vasculopatia intensa. As consequências disso, realmente, ainda são em grande parte desconhecidas, mas já se sabe que o tratamento imediato e adequado para a prevenção do AVC depois de o paciente ter a COVID, ou seja, no pós COVID, é fundamental.

Há falta de pessoas bem treinadas em todas as áreas: na medicina, na enfermagem, na fisioterapia. E é importante essa integração multidisciplinar no combate à pandemia também na fase aguda e no pós-pandemia, principalmente em relação ao tratamento adequado do AVC no pós-pandemia. Quando se mantém o paciente anticoagulado, ele não pode parar esse tratamento por sua vontade, por medo de ir ou por falta de medicamento.

Portanto, a partir de todos esses relatos que eu coletei nesta nossa audiência pública, eu vou fazer uma proposição para se criar no Ministério da Saúde, especificamente no pós-COVID, um departamento para tratar da recuperação desses pacientes, com todos esses componentes de que os senhores falaram aqui brilhante e maravilhosamente. Eu estou extremamente satisfeito com esta audiência pública. Os senhores podem ter certeza de que os meus colegas que não estiveram presentes ou que passaram por aqui vão receber o relatório que nós vamos fazer.

É exatamente isto que eu penso: nós vamos precisar ter uma postura diferente diante desta pandemia, porque não se sabem os resultados ou como ela vai terminar. Sabe-se que começou de maneira...

O SR. DR. ZACHARIAS CALIL (Bloco/DEM - GO) - Deputado Pedro Westphalen...

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Quem está falando?

O SR. DR. ZACHARIAS CALIL (Bloco/DEM - GO) - Eu estou no trânsito. Quem fala é o Calil.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - É o Deputado Calil? Pode falar.

O Deputado Dr. Zacharias Calil é um cirurgião renomado, um candidato ao Prêmio Nobel - já tem o meu voto lá. Recentemente, fez uma cirurgia de separação de xifópagos brilhante.

Os pacientes já estão na Bahia, não é, Deputado Calil? Já foram para casa?

O SR. DR. ZACHARIAS CALIL (Bloco/DEM - GO) - Exatamente, já estão em casa.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Que maravilha, Deputado Calil! Por favor, nos ajude.

O SR. DR. ZACHARIAS CALIL (Bloco/DEM - GO) - Eu estou no trânsito, estou na estrada, mas eu não poderia deixar de falar, Deputado Pedro, de uma preocupação nossa que eu vi muito. Nesse caso das siamesas, eu tive um contato muito grande com uma pessoa que trabalha só com curativos. E ela me mostrou, Deputado Pedro, a quantidade de úlceras de decúbito dessas escaras. Eu vi paciente com ferida dentro da qual cabia uma mão. Lesões por isquemia da pele são de difícil tratamento. O paciente fica muito tempo deitado. Às vezes, você não pode nem movimentá-lo, porque ele sofre uma dessaturação. E essas lesões demoram muito a cicatrizar. Essa pessoa tem utilizado curativo à vácuo, curativo com nitrato de prata, uma série de fatores em cima disso. Quem vê as fotos fica assombrado.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Fica impactado, não é?

O SR. DR. ZACHARIAS CALIL (Bloco/DEM - GO) - Exatamente.

Então, esse também é um problema muito sério que esses pacientes têm enfrentado e que, às vezes, não é relatado. (Falha na transmissão) deveria ser (falha na transmissão) pós-COVID.

Eu tenho amigos médicos que ficaram com sequelas também, principalmente em relação à fibrose pulmonar. Há um colega médico nosso que está com 25% de fibrose pulmonar.

Então, era isso que eu queria falar.

Quero parabenizar V.Exa. Parabenizo também todos os convidados, os palestrantes, pelo brilhante trabalho que foi apresentado.

Um abraço!

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Obrigado, Deputado Calil, pela sua colaboração.

Realmente, a escara é uma consequência. E o AVC, como é uma doença que cronifica, leva os pacientes a esse problema, que é uma das consequências do AVC, que aumentou e vai aumentar mais ainda, porque as pessoas ainda estão fugindo dos serviços, ainda estão fugindo do hospital, estão estressadas, estão mais obesas, estão fazendo tudo ao contrário do que tem que ser feito na prevenção.

Gostei muito da explanação da nossa querida Cristiane, do CONASEMS, sobre a importância da atenção primária e do treinamento das pessoas, mas também sobre o esgotamento delas.

Cristiane, realmente os nossos heróis já estão esgotados.

As minhas considerações finais são essas. Se algum Deputado ainda quiser participar, eu lhe passarei a palavra.

Eu quero agradecer a todos os participantes, que muito contribuíram para o engrandecimento desta audiência pública.

Agradeço também à Ipsen, ao Peter e à Camila, assim como à Associação Mineira do AVC, que também está em outras localidades do Brasil, em nome da Sandra Issida, que nos enviou o vídeo de Líria Gonçalves sobre a experiência de sua família com AVC, um vídeo muito importante. Gostaria de pedir à Comissão para transmiti-lo neste momento - ele é rápido, tem 2 minutos de duração.

(Exibição de vídeo.)

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - O som está ruim.

Bom, nós estamos com um problema no vídeo. Vamos mandá-lo posteriormente aos senhores.

Então, eu quero agradecer a presença dos nossos palestrantes.

Dra. Ana Patrícia, Dr. Angelo, Dra. Cristiane, Dra. Carla, Dra. Linamara, Dr. Marcos, Dra. Sheila, a palavra está com o senhores se quiserem fazer uso dela para as considerações finais. (Pausa.)

Tem a palavra a Dra. Cristiane.

A SRA. CRISTIANE MARTINS PANTALEÃO - Deputado, eu quero agradecer e, para terminar, comentar uma coisa que eu me esqueci de mencionar.

Falamos dos problemas que estamos passando e da importância de se fortalecer a atenção primária, mas também é importante rever a organização farmacêutica. Eu acho que foi muito bem explanada hoje aqui a necessidade de algumas medicações que inclusive não fazem parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME e que serão importantes para a reabilitação dos pacientes. Hoje, é o Município quem está custeando esses medicamentos.

Um deles é o Xarelto, que, apesar do nome comercial, é um anticoagulante de ponta e está sendo necessário para usarmos em vários pacientes com sintomas pós-COVID. Então, precisamos avaliar. Temos que colocar isso em pauta para discutir.

Quanto à questão dos exames, hoje estamos tendo que pagar exames que não estavam até então na rede SUS, como o D-Dímero. Precisamos hoje desses exames para avaliar os pacientes.

Então, além de todo o fortalecimento da atenção primária, precisamos também rever a organização farmacêutica e a média e a alta complexidade para atendimento desses pacientes. Isso hoje está sob a responsabilidade dos Municípios.

Agradeço a oportunidade. Acho que, com o Ministério da Saúde, que está hoje aqui representado, podemos discutir nos GTs - já até estou avaliando aqui - tudo que foi apresentado hoje. Podemos formar um grupo técnico, inclusive com a participação dessas universidades que têm essas experiências exitosas, das sociedades brasileiras representantes das especialidades médicas, para estarem junto conosco, pensando em como orientar, daqui para a frente, os profissionais da atenção básica a repensando o atendimento ao paciente pós-COVID e essa demanda de crônicos, que, infelizmente, estará aumentada daqui para a frente, precisando de um pouco mais de controle.

Então, acho que saímos daqui com boas ideias, pensando inclusive no que podemos fazer a mais para apoiar os Municípios daqui para a frente.

O CONASEMS mais uma vez se coloca à disposição.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Como sempre, o CONASEMS é muito atuante. É muito importante a sua colaboração.

Exatamente, Cristiane, nós vamos ter que ter um novo protocolo, uma nova interação, novas práticas de enfrentamento ambulatoriais. Os Municípios não podem arcar com esse processo. Já estão todos eles esgotados financeiramente. Mas ali, sem dúvida nenhuma, vamos ter que fazer novas ações.

O Dr. Angelo já levantou a mão, bem como a Ana.

Por gentileza, a palavra está com os senhores.

A SRA. ANA PATRÍCIA DE PAULA - Obrigada, Deputado.

Nós gostamos muito das palestras. Eu, assim com a Cristiane, acho que nós temos que aproveitar as propostas que virão após esta audiência pública e ver o que é factível para melhorar a assistência a esses pacientes, do ponto de vista tanto de prevenção quanto de tratamento.

As experiências exitosas de Joinville têm que ser consideradas. É claro que existe uma série de problemas no meio, como o controle da anticoagulação nos pacientes com quem acabamos não mantendo contato. Mas eu acho que estamos abertos para essas discussões e, sem dúvida nenhuma, isso vai melhorar a rede de assistência a esses pacientes.

E queria fazer um comentário com relação à fala da Sheila. Não ficou muito claro para mim, mas parece que, pelo que eu entendi, ela tentou um contato com a atenção primária. Eu não sei se foi com relação à Linha de Cuidado do AVC. Aí, eu queria dar um depoimento. A Secretaria de Atenção Primária à Saúde desenvolveu, no ano passado, uma Linha de Cuidado do AVC. Então, eu não sei se era isso...

A SRA. SHEILA MARTINS - Eu estou aqui.

A SRA. ANA PATRÍCIA DE PAULA - Oi, Sheila. Não sei se foi isso que você falou.

A SRA. SHEILA MARTINS - Não. Eu participei da Linha de Cuidado do AVC. Participei da elaboração dessa atualização, incluindo a atenção primária. Trabalhei bem próximo a eles.

O que eu coloquei é que nós estamos para começar um programa na atenção primária, que não é a Linha de Cuidado. É um programa de reorganização do atendimento da hipertensão, do infarto...

A SRA. ANA PATRÍCIA DE PAULA - São os fatores de risco, não é?

A SRA. SHEILA MARTINS - Isso. Exatamente.

A SRA. ANA PATRÍCIA DE PAULA - Acabam caindo dentro desse processo.

Acho que essas coisas todas estão interligadas.

A SRA. SHEILA MARTINS - Isso.

Esse processo todo já deveria ter começado. Por causa da pandemia, ficou atrasado, porque entendemos a reorganização do sistema, da atenção primária para poder fazer vacina. Realmente, tudo isso sobrecarregou os profissionais.

Então, vamos tentar iniciar isso agora em junho, porque eu acho que vai ser mais fácil. Mas, realmente, ficou prejudicado o atendimento global de prevenção na atenção primária, por causa da pandemia. Queria colocar isso.

A SRA. ANA PATRÍCIA DE PAULA - É um alerta importante pensar que temos que estabelecer uma maneira de esses pacientes manterem um acompanhamento. Então, mesmo na vigência ainda da pandemia, temos que ter essa visão.

Eu vou entrar em contato com a atenção primária também, para vermos o que o SAE junto com a SAPS podem fazer nesse sentido.

Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Obrigado.

Dra. Carla, a senhora quer fazer uso da palavra?(Pausa.)

Dra. Linamara, a senhora quer fazer uso da palavra?(Pausa.)

A SRA. CARLA HELOISA CABRAL MORO - Eu gostaria de fazer dois comentários bem importantes. Um que nos preocupa, como Associação Brasil AVC - estamos falando por todos os pacientes, os indivíduos acometidos por AVC -, é que Joinville já tem uma rede de atendimento bem organizada e, assim mesmo, foi extremamente impactada pela pandemia.

Realmente, algumas estratégias podem ser levadas da nossa experiência para abranger. Por exemplo, quanto à anticoagulação, urge termos novas opções de anticoagulante na rede. Isso é uma coisa urgente. Temos quatro opções já no mercado de novos anticoagulantes mais seguros que não precisam de tanto segmento (falha na transmissão) dos pacientes, e acho que temos que ter isso disponível. Essa é uma questão.

A outra questão é que sabemos que é muito difícil que tenhamos acessível em um país como o Brasil, um país continental, o acesso à terapia de fase aguda, de reperfusão, trombólise. O que acontece? Acabamos tendo, então, o maior número de indivíduos com sequela de AVC.

Em duas frentes nós temos que atuar fortemente. Uma é na prevenção, porque acho que, na prevenção, conseguimos cessar tabagismo, ter controle pressórico. Isso podemos fazer bem na atenção primária. A outra é na atenção à reabilitação.

Acho que a telerreabilitação, realmente, veio para ficar, mas o paciente não pode iniciar uma reabilitação numa telerreabilitação. Ele tem que ter um momento presencial. Então, o momento ouro é dentro do hospital, quando ele está dentro do hospital, onde já faz um vínculo e entende a importância da reabilitação, e, quando ele sai, pode ser monitorado. Em alguns casos, realmente, ele pode fazer por tele, mas ele tem que estar envolvido e entender a importância da reabilitação.

Outra coisa que também é importante deixar bem clara: reabilitação é equipe multi. Nós sempre tivemos bastante dificuldade, mesmo aqui em Joinville, de fazer com que até os gestores entendessem que reabilitação não é fisioterapia. O AVC deixa muitas sequelas físicas, mas metade dos pacientes vai ter algum comprometimento cognitivo. Então, eles não conseguem, depois, ser reinseridos no mercado de trabalho, não conseguem voltar a ter a autonomia e a independência que tinham antes.

Acho que temos sempre que pensar que, em um país onde o acesso a terapias de fase aguda não vai ser para todo mundo, sabemos que não vai ser para todo mundo, é impossível, temos que ter um bom apoio de prevenção primária, para que os AVCs não ocorram, e de reabilitação, para que possamos resgatar esse indivíduo que foi acometido e ficou com sequela.

Então, eu gostaria de agradecer a oportunidade de apresentar isso para vocês e dizer que a associação está aberta para qualquer demanda que se fizer necessária. E o nosso papel é esse mesmo, nós estamos aqui para trazer o que temos de conhecimento e de experiência em prol da nossa população.

Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Westphalen. Bloco/PP - RS) - Muito obrigado, Dra. Carla. A sua experiência em Joinville vai ser muito importante na construção da necessidade de uma nova política pública em relação ao AVC no pós-pandemia.

Nada substitui a consulta pessoal, mas nós temos lugares longínquos que não têm acesso à qualidade necessária de atendimento tanto para tratamento quanto para reabilitação. Então, a telessaúde, a telemedicina vieram para ficar. Não substituem jamais o contato inicial, mas quantos centros de referência nós temos no Brasil para diagnóstico, tratamento e prevenção? Muito poucos, diante da dimensão de um país continental com regiões completamente diferentes umas das outras.

Por isso, esta reunião eclética, com pessoas e experiências diferentes - e vocês de Joinville têm uma excelente experiência. E essas questões precisam ser multiplicadas. Por essa razão, estão presentes a Dra. Ana e o Dr. Angelo, representando o Ministério da Saúde.

Nós temos que fazer desta audiência pública o início de um levantamento de dados do que está acontecendo com o AVC, porque aumentaram os AVCs, quais são as necessidades e os bons cases de AVC, de tratamento, de prevenção e de reabilitação, não só reabilitação física, mas também reabilitação de danos mentais, danos cognitivos, pois a grande maioria dos pacientes tem dificuldades cognitivas.

Muito obrigado por sua participação e pela participação de todos.

Não sei se mais alguém quer fazer uso da palavra, mas quero dizer que fiquei extremamente agradecido a cada uma e a cada um de vocês. Nós vamos fazer um relatório para que se tenha um levantamento de dados do que exatamente está acontecendo e quais são as demandas.

O Ministério, por meio da Dra. Ana e do Dr. Angelo, já demonstrou que está aberto a receber colaborações, e é o que nós vamos fazer.

Quero agradecer ao Ministro, que ontem esteve conosco em São Paulo, por sua fala. Foi a primeira vez que escutei algo que eu gostaria de escutar de um Ministro da Saúde. Ele não é Ministro do SUS, ele é Ministro da Saúde. E saúde engloba a saúde suplementar, engloba a indústria, engloba a distribuidora, engloba todo o segmento da saúde, como enfermagem, medicina, fisioterapia, tudo isso é saúde. Esse é um segmento que movimenta 9,5% do PIB nacional. É tão grande e importante o segmento da saúde, que é o segundo maior empregador do País, depois do agronegócio. Cinquenta por cento do movimento do aeroporto de carga de Guarulhos tem alguma coisa em relação à saúde.

Nós vamos ter, na próxima pandemia, uma demanda reprimida muito grande. Dentro dessa demanda reprimida, existe uma patologia que um em cada quatro brasileiros vai ter: o AVC. Portanto, ela precisa ser tratada diferentemente e com uma política pública específica para ela.

Quero agradecer a participação de todos.

Nada mais havendo a tratar, eu vou dar por encerrada esta reunião.

Convoco para terça-feira, dia 11 de maio de 2021, às 9h30min e às 14 horas, reunião extraordinária de audiência pública com os temas a serem divulgados posteriormente.

Muito obrigado a todos.

Que todos tenham uma ótima semana!