CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

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Sessão: 272.2.54.O Hora: 18:57 Fase: CP
Orador: BENEDITA DA SILVA, PT-RJ Data: 17/10/2012

PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO À MESA PARA PUBLICAÇÃO

A SRA. BENEDITA DA SILVA (PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje é dia de Samba, de chorinho e de todos os ritmos brasileiros. De autoria do Ministério da Cultura, aproveito para saudar mais uma iniciativa da ministra Marta Suplicy, que resultou na sanção da lei feita pela presidenta Dilma Rousseff e que transforma hoje, o 17 de Outubro, no Dia da Música Popular Brasileira. Não foi por acaso, a escolha no calendário. Comemoramos a data natalícia da compositora, instrumentista, regente Chiquinha Gonzaga. A Maior personalidade feminina da história da música popular brasileira foi uma das expressões maiores da luta pelas liberdades no país, promotora da nacionalização musical, primeira maestrina, autora da primeira canção carnavalesca, primeira pianista de choro, introdutora da música popular nos salões elegantes, fundadora da primeira sociedade protetora dos direitos autorais. O projeto, do deputado Fernando Ferro (PT-PE), é de 2003 e diz "A música é, entre todas as manifestações artísticas brasileiras, a que mais acentuadamente revela a riqueza de nossa diversidade cultural e regional", afirmou o parlamentar na apresentação da proposta. "A adoção desse dia é uma forma de homenagear a primeira maestrina do país, que, em pleno século XIX, quando predominava a música europeia nos salões da aristocracia brasileira, desafiou os costumes de sua época e ousou trazer os ritmos africanos para suas composições musicais."

Ferro acrescenta que Chiquinha Gonzaga era "um mulher antenada com as grandes questões de seu tempo" - lutou pela abolição da escravatura e pela causa republicana, além de ser precursora na luta por direitos autorais. A sua música mais célebre é a marcha-rancho "Ó Abre Alas".

Mas Chiquinha também é lembrada pela sua independência. Separou-se do marido imposto, um escândalo para a época. Teria dito que não conseguia ver a vida sem harmonia

A biografia de Chiquinha é um rico mosaico de atos heróicos e que retratam o Brasil de sua época. Reproduzo aqui alguns desses acontecimentos. Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 1847, da união de José Basileu Neves Gonzaga, militar de ilustre linhagem no Império, com a forra Rosa, filha de escrava.

Como diz suas biografas Edinha Diniz Chiquinha Gonzaga "emerge no cenário musical do Rio de Janeiro em 1877, após desilusão amorosa, maldição familiar, condenações morais e desgostos pessoais é uma mulher que precisa sobreviver do que sabia fazer: tocar piano.

Ninguém ousara tanto. Praticar música ao piano, ou até mesmo compor e publicar, não era incomum às senhoras de então, mas sempre mantendo o respeito ao espaço feminino por excelência, o da vida privada. A profissionalização da mulher como músico (e ainda mais aquele tipo de música de dança para consumo nos salões!) era fato inédito na sociedade da época. A atividade exigia talento, determinação e coragem - qualidades que não faltavam a Chiquinha Gonzaga. A convite do famoso flautista Joaquim Antônio da Silva Callado, passou a integrar o Choro Carioca como pianista, tocar em festas e frequentar o ambiente artístico da época"

A estréia como compositora se deu em 1877, com a polca "Atraente", composta de improviso durante roda de choro em casa do compositor Henrique Alves de Mesquita e publicada pela Viúva Canongia, Grande Estabelecimento de Pianos e Músicas. Por desafiar os padrões familiares da época, sofreu fortes preconceitos. Sua vontade de musicar para teatro levou-a a escrever partitura para um libreto de Artur Azevedo, Viagem ao Parnaso. A peça foi recusada pelos empresários.

Outras tentativas fracassaram, até que conseguiu, em 1885, musicar a opereta de costumes "A Corte na Roça", encenada no Teatro Príncipe Imperial. Em 1889 promoveu e regeu, no Teatro São Pedro de Alcântara, um concerto de violões, instrumento estigmatizado àquela época. Foi uma ativa participante do movimento pela abolição da escravatura, vendendo suas partituras de porta em porta a fim de angariar fundos para a Confederação Libertadora. Com o dinheiro arrecadado na venda de suas músicas comprou a alforria de José Flauta, um escravo músico.

Chiquinha Gonzaga também participou da campanha republicana e de todas as grandes causas sociais do seu tempo. Já era uma artista consagrada quando compôs, em 1899, a primeira marcha- rancho, Ó Abre Alas, verdadeiro hino do carnaval brasileiro.

Na primeira década deste século esteve algumas vezes na Europa, fixando residência em Lisboa por três anos. De volta ao Brasil deu uma contribuição decisiva ao teatro popular ao musicar, em 1912, a burleta de costumes cariocas Forrobodó, seu maior sucesso teatral. Em 1914 seu tango Corta-Jaca foi executado pela primeira- dama do país, Nair de Teffé, em recepção oficial no Palácio do Catete, causando escândalo político.

Em setembro de 1917, após anos de campanha, liderou a fundação da SBAT, sociedade pioneira na arrecadação e proteção dos direitos autorais. Aos 85 anos de idade escreveu a última partitura, Maria, com libreto de Viriato Corrêa. Sua obra reúne dezenas de partituras para peças teatrais e centenas de músicas nos mais variados gêneros: polca, tango brasileiro, valsa, habanera, schottisch, mazurca, modinha etc.

Chiquinha Gonzaga faleceu aos 87 anos de idade, no dia 28 de fevereiro de 1935, no Rio de Janeiro, no inicio do carnaval.

Nossa homenagem a essa figura brilhante, mãe, mulher brasileira, mestiça e maestrina, da música e da vida.

Muito obrigada.