CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

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Sessão: 189.3.55.O Hora: 16:06 Fase: GE
Orador: YEDA CRUSIUS, PSDB-RS Data: 11/07/2017

A SRA. YEDA CRUSIUS (PSDB-RS. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, venho tratar de uma data memorável: amanhã Paixão Côrtes completa 90 anos.

Paixão Côrtes é, na verdade, o condutor de toda a memória do tradicionalismo do Rio Grande do Sul. Ao completar 90 anos, Paixão Côrtes deixa a sua marca em mais de 4 mil Centros de Tradições Gaúchas - CTGs espalhados pelo Brasil e por todo o mundo.

Amanhã, no dia do aniversário de Paixão Côrtes, eu quero lembrar que todos aqueles que chegam a Porto Alegre pelo aeroporto e se dirigem à cidade veem ali uma escultura de Caringi, cujo modelo foi Paixão Côrtes, que diz: "Bem-vindos a Porto Alegre!" E quando eles voltam para o aeroporto, Paixão Côrtes diz, a partir daquela escultura: "Boa viagem!"

Então, deixo aqui minha homenagem a Paixão Côrtes pelos seus 90 anos.


PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELA ORADORA

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em 12 de julho faz 90 anos João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, um homem que fez do resgate das tradições gauchas a sua missão e se despede da vida pública através da bela carta que seu filho, Carlos, publicou no www.estanciavirtual.com.br.

Engenheiro agrônomo, folciorista, radialista e pesquisador da cultura popular do Rio Grande, Paixão resgatou nossas tradições em um momento delicado, no pós-guerra mundial. Sua luta, sempre contra modismos, começou quando o Brasil era bombardeado pela cultura norte-americana e Getúlio Vargas promovia a padronização cultural, típica do Estado Novo, através da criação do hino e da bandeira nacionais, que relegou a segundo plano as manifestações culturais regionais.

Em 1947, Paixão Côrtes, com um grupo de estudantes do Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio Estudantil do Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, recém-fundado por eles, usou um cabo de vassoura para capturar a chama da Pira da Pátria, no Parque Farroupilha, para desfilar com ela pelas ruas de Porto Alegre. O gesto, meio de improviso, acabou por iluminar o caminho para o resgate das tradições e da autoestima gaúchas e criou a Chama Crioula, o marco inicial do movimento tradicionalista organizado. Por meio dela os gaúchos recuperaram a sensação de pertencimento de sua cultura, tradições, danças, música e indumentária, que andava em baixa. Em uma Porto Alegre moderna, Paixão Côrtes soube despertar o culto ao homem do campo.

"Não estávamos, nós os jovens, nos insurgindo contra as coisas do desenvolvimento, da liberdade, do progresso, nem éramos insensíveis à evolução. Mas queríamos também o direito de fixar as nossas coisas, de preservá-las, de valorizá-las dignamente nos seus devidos lugares", afirma ele no seu livro Origem da Semana Farroupilha - Primórdios do Movimento Tradicionalista.

Se assim o escreveu, melhor o fez. Durante os 70 anos de vida pública, que agora encerra, Paixão - tendo ao lado o parceiro de sempre, Luiz Carlos Barbosa Lessa - foi quem resgatou as memórias do Rio Grande, criou a Ronda Crioula, uma série de eventos culturais e cívicos que incluíram não apenas a Chama Crioula, mas o Candeeiro Crioulo, e inspiraram a criação da Semana Farroupilha.

Em suas andanças pelo interior, Paixão Côrtes e Barbosa Lessa partiram para a pesquisa de campo, recolhendo composições que foram gravadas por Inezita Barroso e que, sem seu trabalho minucioso de garimpo, estariam perdidas para sempre. Como um tropeiro do folclore, acumulou, pagando do próprio bolso, um acervo inestimável de cultura gauchesca, que divulgou em artigos, inúmerós livros, teses, documentários, programas de rádio e de televisão. Radialista dos bons, comandou durante 9 anos o programa Festança na Querência, na Rádio Gaúcha, a convite de Maurício Sirotsky.

Plural, todo o material recolhido no interior do Rio Grande, Paixão levou para o mundo. O profissional talentoso, à frente de seu tempo, um autêntico multimídia que fundou o Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição, em 1953, apresentou-se em palcos internacionais, como o Olympia de Paris, o palco da Universidade de Sorbonne, o Hotel de Ville, o Teatro de Alhambra, na Feira Mundial de Transportes e Comunicação, na cidade de Munique, na Alemanha, além de cabarés e clubes noturnos. Em 1986 passou um mês na Inglaterra, divulgando traduções de seus livros e da cultura gaúcha.

Nosso Paixão Côrtes se despede agora de sua vida pública, a mesma que fez do Rio Grande do Sul um celeiro de tradições registradas desde que, juntamente com mais 7 alunos do Julinho, saiu no Piquete da Tradição pelo Estado a coletar todas as manifestações culturais do que hoje se chama Cultura Farroupilha.

O MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho está presente em todo o Brasil através dos CTG - Centros do Tradições Gaúchas, que sustentam com suas ações e iniciativas as tradições farroupilhas em todo canto do País e em outros países. São mais de 4 mil entidades gauchescas registradas espalhadas por esses rincões.

Muito do conhecimento que se tem no Brasil sobre a história, os costumes, a música, as vestimentas, a sonoridade da fala e os escritos dos poetas gaúchos se deve à criação e à permanente pesquisa e divulgação feitas por Paixão Côrtes, que seguiu, após o Piquete da Tradição, criando para o MTG.

Nascido em Santana do Livramento, onde honrosamente fui campeã de votos nas eleições de 1994 para Deputada Federal, hoje Paixão Côrtes é o símbolo de Porto Alegre, em sítio onde foi colocada a escultura-símbolo dos gaúchos e da qual foi modelo para a obra de Caringi. Na inauguração do Sítio do Laçador, em 31 de março de 2007, ali pertinho do aeroporto, registrei que agora, para todos os que vão viajar pela BR-116 ou pelo aeroporto, o Laçador estaria ali para lhes dizer "Boa viagem, vivente!". E para os que chegavam estava ali para lhes dizer "Bem-vindo a Porto Alegre!".

Pude receber cópia da escultura de Caringi, que depositei no Gabinete de Governador, no Palácio Piratini, com muita alegria. A alma gaúcha deve a Paixão ter virado corpo, não apenas na escultura do Caringi, mas na rede de milhares de CTGs envolvidos no MTG.

Tamanha identidade com a tradição do Rio Grande rendeu a Paixão o reconhecimento dos gaúchos, que lhe concederam em votação espontânea um lugar entre os "20 Gaúchos que Marcaram o Século XX", ao lado de Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, João Goulart, Erico Verissimo, Mário Quintana, Barbosa Lessa e outras personalidades. Nada mais justo, assim como foi merecida a homenagem que lhe fez o então Presidente Fernando Henrique Cardoso, ao agraciá-lo com a Comenda da Ordem ao Mérito Cultural, por serviços prestados à cultura brasileira.

Pude também, como Governadora, fazer o reconhecimento dos serviços prestados à cultura, concedendo-lhe a Medalha Negrinho do Pastoreio. No dia da solenidade recebi de suas mãos e das de sua esposa os livros que ela escreveu sobre as vestimentas típicas, tanto para a mulher gaúcha, quanto para os homens gaúchos. Os livros são fruto de pesquisa detalhada de todos os tempos e de todas as regiões, uma preciosidade. ]

Como agrônomo responsável por muito do que temos na ovinocultura, pude também conferir-lhe a Medalha Assis Brasil durante a Expointer, nossa feira internacional anual de exposições, que se realiza no Parque Assis Brasil e que divulga e premia os frutos da terra.

Valorizo imensamente no trabalho de Paixão Côrtes o registro sistemático que ele tem feito há 70 anos de tudo o que pesquisou e o que conhece. Ele compartilha desde sempre o que conhece e aprende com todos, a partir dos documentos, livros, vídeos, mas principalmente pela sua presença em tudo o que se refere à valorização do "Ser Gaúcho". Ele é nosso professor ou, como seu filho o chama, Tropeiro da Tradição.

É por isso que nessa homenagem que recebe da Assembleia Legislativa, no dia 12 de julho, dia do seu aniversário de 90 anos, faço questão de, com muita alegria, juntar-me aos demais num brado forte e verdadeiro: Salve, Paixão!

Obrigada, Paixão!