CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

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Sessão: 009.2.54.O Hora: 18:15 Fase: CP
Orador: PAES LANDIM, PTB-PI Data: 13/02/2012

O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI.) - Sr. Presidente, faleceu no dia 13 de janeiro passado, em Salvador, onde se encontrava em visita aos familiares de sua esposa, o talentoso piauiense Cláudio Melo.

Nascido em 1940, na pequena cidade de Batalha, no Piauí, filho de um homem probo por excelência, homem de bem, homem público exemplar, Clóvis Melo, de cuja figura já tive oportunidade de falar quando da sua morte - Deputado Estadual, Prefeito de Batalha, membro do Tribunal de Contas do Estado -, foi símbolo da dignidade da política, e Cláudio Melo seguiu as pegadas do pai.

Diplomado pela Universidade Federal da Bahia, na Escola de Direito, em 1963, primeiro aluno da turma, orador da turma. Foi Presidente do Grêmio do Colégio Marista, em Salvador, onde fez o curso colegial. Foi Presidente do famoso DCE dos estudantes da Bahia, nos áureos tempos da política estudantil, consequentemente participante do Conselho Universitário da Universidade da Bahia.

Logo após diplomado, foi residir em Teresina, a pedido de seu pai, onde, entre outras funções, foi designado pelo Governador Petrônio Portella para trabalhar na Secretaria de Planejamento, chegando a ocupar interinamente esse cargo.

Petrônio Portella tinha uma grande admiração por Cláudio. Desejava sua permanência no Piauí.

Chegou a militar como advogado por um período no Estado e Maranhão. Foi consultor jurídico da Caixa Econômica Federal. Mas as razões de coração imperaram sobre as razões telúricas.

Casou-se com Maria Laura, ilustre filha da Bahia, irmã do grande professor e cientista político Luiz Navarro de Brito. Essa sua identidade com Navarro de Brito não foi somente familiar, mas também ideológica. Comungavam dos mesmos ideais republicanos, de independência dos Poderes, de crença no Estado de Direito, de respeito aos direitos humanos.

Luiz Navarro de Brito foi a mais brilhante geração da Bahia do seu tempo. Estudou Ciência Política nos Estados Unidos e tinha em Claudio Melo não só um cunhado, mas um irmão de ideias e de ideais.

Perseguido pelo regime autoritário e pela mesquinharia política da província, Navarro de Brito morreu cedo. Talvez traumatizado pelos constrangimentos que passou na sua vida. Era um intelectual brilhante, gigantesco, tinha uma cultura fenomenal, mas que o regime autoritário ceifou. Talvez por alguma inveja da oligarquia baiana.

Apaixonado pela Bahia, Cláudio ficou de vez. Tanto é assim que a Assembleia da Bahia deu-lhe o título de cidadão. Lá teve todos os seus filhos: Patrícia; Cláudio Melo Filho, que é Diretor da Odebrecht, jovem e talentoso empresário, eficiente e dinâmico, um gentleman; Guilherme; e Frederico. Mas, na Bahia, Cláudio Melo exerceu várias funções empresariais.

As empresas sempre procuravam a interpretação de novas definições de regras no mercado empresarial e procuravam empreendedores e diretores que tivessem afinidade com o Direito, e Cláudio Melo serviu até de conselheiro para grandes decisões legais tomadas pelas empresas.

Assim, participou, Sr. Presidente, da COHABITA Construções e Habitações do Nordeste S/A. Na época, era uma das maiores empresas de construção e incorporação imobiliária do Brasil, chegando a ter 40% do mercado imobiliário de Salvador, inclusive 60% aqui em Brasília.

Entre outras empresas em Salvador, finalmente foi convidado pessoalmente pelo Dr. Emílio Odebrecht para ingressar no grupo, como diretor em Brasília. Ocupou funções de Vice-Presidente, ingressando na Odebrecht em 1985.

Cláudio Melo, pelas suas ligações, pelo seu passado de tendência esquerdista, de pensamento de esquerda, chegou, inclusive, a ser envolvido em inquérito policial militar. Foi absolvido, defendido por colega e professor da sua faculdade. Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, ele sempre esteve ao lado das correntes progressistas do País, ligado ao MDB, razão por que foi um dos que mais motivaram apoio ao movimento das Diretas Já deste País, daí a sua amizade com grandes personalidades políticas do País.

Sr. Presidente, Cláudio Melo faleceu deixando um legado importante, posto que algum tempo fora das suas funções empresariais na Odebrecht, por motivo de saúde, seu filho Cláudio Melo Filho o substituiu    em Brasília, com o mesmo perfil, o de um rapaz trabalhador, engenheiro empreendedor, inovador, criativo e homem da absoluta confiança do Grupo Odebrecht exatamente pela sua capacidade de trabalho dentro da linha traçada por Norberto Odebrecht, de trabalho e dedicação integral aos objetivos empresariais do Grupo, que tanto honra a Bahia e o Brasil, até porque o Grupo Odebrecht se põe hoje em várias partes do mundo. Cláudio Melo pai e Cláudio Melo filho se integraram no espírito da saga de Seu Norberto.

Sr. Presidente, Cláudio Melo tinha tudo para ser um grande advogado, um grande jurista, um grande político, se quisesse, no Estado do Piauí, porque oportunidade não lhe faltou, mas ficou na sua Bahia querida, em função do amor pela sua mulher querida. Aí forjou sua carreira empresarial, dado o suporte jurídico que ele prestava a esses empreendimentos dos quais participou como dirigente.

Mas, sobretudo, posso afirmar a V.Exa., Sr. Presidente, que na minha geração, no Estado do Piauí, não conheci ninguém mais preparado, mais talentoso, com tão vasta cultura jurídica, um grande orador, exuberante orador dentro da velha tradição baiana. Acho que ele incorporou o espírito da velha tradição baiana dos grandes oradores. E, sobretudo, era homem fino, educado, trabalhador. Aqui, na Constituinte, serviu de apoio ao grupo majoritário da Constituinte, ao lado de Ulysses Guimarães e de Mário Covas. Ajudou muito na articulação de várias votações na Constituinte, como em algumas áreas de ciência, tecnologia e educação, entre outras.

Portanto, quero aqui prestar uma homenagem a este ilustre amigo, que morreu jovem, Sr. Presidente, ainda antes dos 70 anos de idade, mas que vinha já há algum tempo adoentado, razão por que não pôde prestar, na sua plena maturidade, todo o brilho da cultura conquistada na velha Bahia, onde estudou durante mais de 8 anos e onde viveu grande parte de sua vida, no fulgor de sua inteligência.

Ele foi exemplo do jovem que dedicou a vida ao estudo, que dedicou a mocidade ao trabalho, e toda a sua vida, após a mocidade, também se guiou pelo maior senso de responsabilidade. Era um homem irrequieto na sua preocupação de cumprir as obrigações. O exemplo de sua vida está todo espraiado no comportamento de seus filhos, todos eles seguidores do legado de seu querido e saudoso pai, Cláudio Melo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Amauri Teixeira) - Muito obrigado também, Deputado Paes Landim, por obedecer ao tempo. Como sempre, o senhor cumpre o tempo.